O chão da floresta faz um som suave, se ouvirmos com atenção
Fazer renascer um ecossistema florestal depois de ter sido abatido nem sempre é fácil. Pode ser necessário muito trabalho árduo e uma monitorização cuidadosa para garantir que a biodiversidade volte a prosperar.
Mas monitorizar a biodiversidade pode ser dispendioso, intrusivo e exigir muitos recursos. É aí que entram em ação os métodos de levantamento acústico ecológico, ou “eco acústica”.
De facto, o planeta canta. Pense no canto dos pássaros, na ecolocalização dos morcegos, nas folhas das árvores a esvoaçar ao sabor da brisa, no coaxar das rãs e no estridular dos grilos do mato. Vivemos num eufónico teatro da vida.
Até as criaturas no solo sob os nossos pés emitem vibrações únicas enquanto navegam pela terra para se deslocarem, caçarem, alimentarem-se e acasalarem.
A escuta desta cacofonia subterrânea através de microfones especiais pode fornecer aos investigadores informações importantes sobre a saúde dos ecossistemas.
O novo estudo do “The Conversation”, publicado na revista Restoration Ecology, mostra que a eco acústica pode constituir uma forma eficaz de monitorizar a biodiversidade no solo e na floresta que este suporta.
O que é que o estudo fez?
A tecnologia acústica é largamente utilizada para o estudo de morcegos, aves e outras criaturas. No entanto, os cientistas que restauram ecossistemas degradados ainda não utilizaram plenamente a eco acústica do solo.
Isto apesar da sua eficácia comprovada na deteção de vibrações de pequenos animais.
Este estudo aplicou ferramentas eco acústicas para medir a biodiversidade acima e abaixo do solo numa floresta do Reino Unido. Partiram da hipótese de que os solos de florestas restauradas para um estado mais saudável teriam uma maior diversidade de sons do que os solos de parcelas recentemente desmatadas.
Isto porque assumiram que mais criaturas viveriam nos solos restaurados e “mais saudáveis”, produzindo uma maior variedade de sons que poderiam detetar.
“Pense em duas orquestras sinfónicas. Metade dos músicos de uma orquestra adoeceram e não podem tocar no concerto. Isto é análogo a um ecossistema degradado. Em contrapartida, a outra orquestra tem todos os seus membros e, por conseguinte, será mais ruidosa, com sons mais complexos e diversificados”, sublinha o site.
Durante a Primavera e o Verão de 2022, recolheram 378 amostras de três parcelas florestais recentemente desmatadas e três parcelas florestais restauradas. Criám um sistema de gravação com microfones especiais de “contacto” que inseriram no solo.
Utilizaram uma câmara com espuma de amortecimento de som no interior para gravar criaturas do solo, como minhocas e escaravelhos.
Esta câmara permitiu-lhes bloquear os sinais indesejados, como o ruído mecânico, o vento e a atividade humana. A câmara continha o microfone e uma amostra de 5 litros do solo de cada parcela.
Os resultados foram “entusiasmantes”. A diversidade de sons era muito maior no solo das parcelas restauradas.
Esta descoberta “confirmou as nossas suspeitas de que um solo mais saudável seria mais afinado”, sublinham.
Porque é importante monitorizar a saúde do solo?
Os resultados preliminares sugerem que a eco acústica pode monitorizar a vida subterrânea. Mas porque é que a monitorização da biodiversidade do solo é tão importante?
A saúde do solo “é a base dos nossos sistemas alimentares e suporta todas as outras formas de vida na terra. Deveria ser uma prioridade global”.
Os organismos “invisíveis” e “inaudíveis” que vivem no solo “mantêm a sua saúde”. Os organismos subterrâneos, como as minhocas e os escaravelhos, “desempenham um papel crucial no ciclo de nutrientes e na saúde do solo. Sem eles, as florestas não podem prosperar”.
Ao utilizar a eco acústica para monitorizar a biodiversidade subterrânea, os ecologistas “podem avaliar melhor a eficácia dos esforços de recuperação”. Isto “permitir-lhes-á tomar decisões mais informadas sobre as melhores formas de proteger a natureza”.
A utilização da eco acústica nos esforços de recuperação pode também “ter implicações importantes para a atenuação das alterações climáticas”. As florestas “são sumidouros de carbono cruciais”. Absorvem CO2 da atmosfera e armazenam-no na sua biomassa lenhosa e nos solos.
Em contrapartida, as áreas degradadas ou desflorestadas “são fontes significativas de emissões de carbono”.
A recuperação destas áreas e a monitorização da vida subterrânea “podem ajudar a reduzir as emissões de carbono e melhorar a nossa capacidade de reduzir os efeitos de um clima em mudança”.
É ainda uma ciência emergente
A utilização da eco acústica nos esforços de recuperação “é ainda relativamente recente, mas é um passo importante para uma abordagem mais holística e eficaz da recuperação dos ecossistemas”.
Ao adotar novas tecnologias e abordagens, “podemos trabalhar para um planeta mais saudável e sustentável”.
Claro que há desafios que ainda temos de ultrapassar. Por exemplo, identificar com precisão as fontes de sinais acústicos numa paisagem sonora complexa pode ser um desafio. No entanto, “à medida que as tecnologias e os métodos continuam a melhorar, os potenciais benefícios da eco acústica são imensos”.
Ao monitorizar a vida subterrânea de uma forma não intrusiva e eficiente, “podemos compreender melhor a eficácia dos nossos esforços de recuperação”. Isto “ajudar-nos-á a tomar decisões mais informadas sobre a forma de proteger a natureza”.
As possibilidades da eco acústica nos esforços de restauro ainda só começaram a ser exploradas. “É uma altura empolgante para os que trabalham nesta área, à medida que descobrimos novas formas de utilizar o som para curar o nosso planeta”, concluem.