Suíça, Reino Unido e Noruega no topo da lista dos países “perigosamente mal preparados” para enfrentar o aquecimento global



Limitar o aquecimento do planeta a 1,5 graus Celsius é considerado essencial para evitar o colapso dos sistemas vitais da Terra, e uma meta com a qual os governos do mundo se comprometeram em 2015, quando assinaram o Acordo de Paris. No entanto, alcançar esse objetivo “está cada vez mais fora do nosso alcance”.

A conclusão é de uma equipa de investigadores das universidades de Oxford e Bristol, que, num artigo publicado recentemente na revista ‘Nature Sustainability’, revelam que os países que serão mais afetados por temperaturas extremas se esse limite for ultrapassado serão os da região centra africana, como a República Centro Africana, a República Democrática do Congo e o Chade.

No entanto, a investigação mostrou que os países que sentirão o maior aumento de dias “desconfortavelmente quentes” estão no norte da Europa, com a Suíça, o Reino Unido e a Noruega no topo dessa lista de 10 países “perigosamente mal preparados”, oito dos quais são europeus.

De acordo com as estimativas dos cientistas, as pessoas que vivem na Suíça ou no Reino Unido verão um aumento de cerca de 30% da necessidade de recorrerem a estratégias de arrefecimento, como aparelhos de ar condicionado, pelo que os autores argumentam que, sem as medidas de adaptação certas, tal poderá resultar num “aumento significativo” do consumo de energia.

Radhika Khosla, professora em Oxford e uma das autoras do artigo, avisa que em 2050 as necessidades globais de energia para arrefecimento poderão ser iguais a toda a eletricidade gerada em 2016 pelos Estados Unidos da América, União Europeia e Japão juntos.

Por isso, a investigadora diz que é preciso encontrar formas mais sustentáveis de fornecer arrefecimento, algo que continua a ser um “ângulo morto” dos debates em torno da sustentabilidade.

Os cientistas consideram que, para evitar esses picos nas necessidades de consumo de energia, são precisas medidas adequadas para arrefecer o interior dos edifícios, como o isolamento térmico, um maior recurso a ventoinhas, ou através da cobertura dos prédios com tinta ‘ultra branca’ ou com painéis que ajudem a refletir a radiação solar.

Sem essas medidas, poderemos assistir aumento das emissões de gases com efeito de estufa, uma vez que a maior parte da eletricidade produzida a nível mundial ainda advém de combustíveis fósseis. Sem essas medidas, diz Khosla, podemos ficar “presos num ciclo vicioso de queima de combustíveis fósseis para nos sentirmos mais frescos enquanto tornamos mais quente o mundo lá fora”.

Além da Suíça, Reino Unido e Noruega, na lista dos dez países que deverão sentir o maior aumento do número de dias quentes estão a Finlândia, a Suécia, a Áustria, o Canadá, a Dinamarca, a Nova Zelândia e a Bélgica.

Nicole Miranda, outras das autoras, salienta que os países do norte da Europa precisam de se adaptarem para terem uma maior resiliência ao calor “mais rapidamente do que outros países”, recordando que em 2022 as ondas de calor que varreram o Reino Unido causaram “disrupções massivas” na rede elétrica desse país, além de terem provocado vários casos de desidratação, de insolações e até de mortes.

“Prepararmo-nos para mais dias quentes é um imperativo económico e sanitário”, defende.

Citado em comunicado da Universidade de Oxford, Youba Sokona, vice-presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), afirma que “esta investigação mostra que nenhum país – da Suíça à República Centro Africana – está a salvo das alterações climáticas”.

E acrescenta que, segundo os dados, “os aumentos extremos da temperatura previstos nesta investigação também mostram que o arrefecimento deixará em breve de ser um luxo, mas sim uma necessidade em toda a África subsariana”, explicando que o aumento das necessidades energéticas será “um grande desafio ao desenvolvimento sustentável”.





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