Reconciliar produção alimentar e conservação da floresta é desafio na bacia do Congo
Políticos e ecologistas abriram hoje em Kinshasa um encontro regional para debater as formas de combinar a produção alimentar e a conservação da biodiversidade na bacia do Congo, num contexto de emergência climática.
No primeiro dia do encontro, que se prolongará até quinta-feira e em que participam cerca de uma centena de participantes de uma dezena de países, os oradores foram unânimes em considerar que a proteção do ambiente deve colocar “o homem no centro da ação”, numa região onde as populações locais retiram da floresta a maior parte do seu sustento.
Mas “como podemos conservar a biodiversidade da floresta da bacia do Congo e, ao mesmo tempo, aumentar a segurança alimentar na região?”, questionou José Mpanda, ministro da Agricultura da República Democrática do Congo (RDCongo), esperando, em nome do governo de Kinshasa, ter uma resposta no final da reunião.
“Se não pensarmos nas populações locais que estão a morrer de fome devido às consequências das alterações climáticas nos seus sistemas alimentares, a floresta não será poupada, porque para as populações marginalizadas e pobres, a floresta é o seu supermercado (…) não vamos proibi-las” de encontrar aí algo para comer, afirmou.
“Se não resolvermos a questão dos sistemas alimentares, não podemos resolver a questão da conservação, porque as pessoas vão destruir a floresta em busca de alimentos”, disse à agência France-Presse Million Belay, coordenador geral da Aliança para a Soberania Alimentar em África (AFSA, na sigla em francês).
Na opinião de Million Belay, “há muito apoio à conservação na bacia do Congo, mas muito pouco ao sistema alimentar das pessoas”, que, na sua grande maioria, obtêm os seus alimentos da floresta.
“Precisamos de nos concentrar neles tanto quanto na conservação e tanto quanto na crise climática”, explicou.
Por seu lado, Josué Aruna, diretor-executivo da Sociedade de Conservação da Bacia do Congo, considera que os doadores devem apoiar a política prevista pelas autoridades da RDCongo, a fim de encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento e a preservação da floresta congolesa.
Depois da Amazónia, a bacia do Congo é a segunda maior floresta tropical do planeta, conhecida como os “pulmões de África”, com 220 milhões de hectares de floresta espalhados por vários países, incluindo a República Democrática do Congo, a República do Congo, o Gabão e os Camarões.