Transição para a sustentabilidade entre os fatores que mais impulsionam a criação de emprego
Na data em que Portugal assinalou o primeiro Dia Nacional da Sustentabilidade – simbolicamente, o mesmo dia em que a Organização das Nações Unidas adotou a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável -, o ManpowerGroup divulgou, no âmbito dos seus Global Insights, o “Green Jobs Report”, no qual aponta as principais tendências em gestão de talento a considerar pelas lideranças organizacionais que visam um futuro de negócios mais alinhado com a economia verde.
“Apesar de cada vez mais empresas terem objetivos claros de descarbonização e transição dos seus modelos de negócios no sentido de uma maior sustentabilidade, enfrentam também um importante desafio: o acesso ao talento qualificado que lhes permitirá concretizar esses objetivos. Embora o número de profissionais dotados de competências verdes esteja a aumentar, não cresce a um ritmo capaz de acompanhar o aumento da procura”. afirma Rui Teixeira, Country Manager do ManpowerGroup, citado em comunicado.
“De acordo com o Fórum Económico Mundial, a transformação global no sentido da sustentabilidade dos negócios irá criar até 30 milhões de novos postos de trabalho, até 2030. Mas este crescimento líquido será acompanhado por uma elevada disrupção no mercado de trabalho. Para terem êxito nas suas estratégias de desenvolvimento sustentável, as empresas precisam de reavaliar os seus modelos de atração e gestão do seu capital humano e apostar claramente numa estratégia de construção do talento. Só através do reskill e upskill dos seus profissionais é que as empresas poderão ampliar a base de competências verdes de que necessitam, ao mesmo tempo que reforçam a empregabilidade futura desse profissionais e garantem que ninguém fica para trás nesta transição verde”, acrescenta.
Tendência 1: Há uma nova Geração Verde a exigir mais sustentabilidade
Particularmente acentuada na Geração Z, a preferência por produtos mais sustentáveis “tem-se tornado um fator decisivo no consumo e mostra-se cada vez mais relevante para consumidores de todas as gerações.” No espaço de um ano, 51% dos consumidores globais, de todos os grupos etários, afirmaram que a sustentabilidade se tornou mais importante para eles e, no mesmo período, 49% declarou ter pago um valor adicional por um produto, por este ser sustentável (dados do IBM Institute for Business Value).
A sustentabilidade é, também, cada vez mais relevante nos processos de decisão de carreira, com 67% dos candidatos globais de todas as idades a afirmar estar mais dispostos a candidatar-se a empregos em organizações por si consideradas ambientalmente sustentáveis, e 68% a declaram-se mais inclinados a aceitar funções nessas empresas, segundo dados da mesma instituição.
Face a esta tendência, o estudo conclui, que a liderança em sustentabilidade “será um fator crítico na gestão de talento, no futuro, permitindo às organizações obterem uma vantagem significativa ao nível da atração e retenção de talento e criando mais oportunidades de diferenciação competitiva nas suas propostas de valor de empregador”.
Tendência 2: A ação governamental está a acelerar a transição nos modelos de negócio
Por todo o mundo aumentam as medidas para combate às alterações climáticas, impulsionadas tanto por advertências científicas, como por governos e reguladores, que têm vindo a apoiar, com investimentos históricos, os incentivos à transição das empresas para modelos sustentáveis.
Planos de incentivos governamentais, como o Green Deal Industrial Plan da União Europeia, no valor de 225 mil milhões de euros, e o Inflation Reduction Act dos Estados Unidos, que disponibiliza 369 mil milhões de dólares para a energia limpa, estão a estimular as empresas a adotar compromissos de neutralidade carbónica e a promover a criação de emprego. De acordo com o Fórum Económico Mundial, o Inflation Reduction Act já promoveu mais de 90 mil milhões de dólares em novos investimentos e contribuiu para criar 100 mil novos empregos no setor da energia limpa.
Estes incentivos “são, assim, um poderoso incentivo à criação de emprego e 55% dos líderes empresariais inquiridos preveem que os investimentos na transformação verde das empresas e nas questões ambientais, sociais e de governação (ESG) ultrapassarão a tecnologia e outras megatendências como principais criadores de emprego nos próximos cinco anos”. Ao mesmo tempo, “permitirão também acelerar os mecanismos de capacitação dos trabalhadores, mediante o financiamento de ações de upskilling e reskilling que permitirão reduzir o desencontro entre as necessidades de competências verdes e a base de talento disponível no mercado”.
Tendência 3: A ESG no foco dos líderes empresariais
A ESG está a evoluir rapidamente para um padrão global de atuação nos negócios e o estudo releva, por exemplo, que 58% dos CEOs da Fortune 500 já estabeleceram objetivos ambiciosos de emissões líquidas neutras, de gazes com efeito de estufa, até 2050. No entanto, e apesar deste foco crescente nas questões de sustentabilidade, muitas empresas estão a ainda definir o momento em que querem chegar ao Net Zero e mais ainda estão apenas nas fases iniciais da descoberta do seu caminho para a redução da pegada de carbono.
Dados da Accenture, referidos no estudo, revelam que, enquanto mais de um terço (34%) das maiores empresas do mundo têm o compromisso de se tornarem neutras em carbono, quase todas (93%) não conseguirão atingir os seus objetivos se não duplicarem, pelo menos, o ritmo de redução das emissões até 2030. A cadência de adoção e execução dos planos de descarbonização necessita, por isso, de acelerar e as empresas precisam de talento para concretizar essas estratégias, o que representa um desafio adicional.
Efetivamente, e de acordo com o The Search for ESG Talent do ManpowerGroup, quase oito em cada dez organizações possuem já uma estratégia de ESG, ou estão em processo de a planear, mas 94% das empresas a nível global e 91% em Portugal carecem do talento necessário para implementar os seus objetivos. Perante este cenário, a aposta no upskilling é cada vez mais necessária, com o Fórum Económico Mundial a estimar que 61% da força de trabalho global precisará de formação adicional até 2027.
Tendência 4: A adoção da tecnologia verde está a acelerar
A procura global de soluções de sustentabilidade tem, a par da evolução tecnológica, gerado novas oportunidades para as empresas que se posicionam na economia verde. A curto e médio prazo é de esperar que este crescimento acelere, particularmente em setores como os da Energia, Construção e Automóvel, impulsionando um forte aumento na procura de talento.
Dados analisados no estudo indicam que, recentemente, o investimento global na produção de petróleo foi já ultrapassado pelo investimento em energia solar, que atingiu uma média de mil milhões de dólares/dia. Também a quota de veículos elétricos nas vendas mundiais de automóveis está em forte crescimento, devendo alcançar perto dos 90%, até 2050. Ao mesmo tempo, na Europa, 35 milhões de edifícios deverão ser renovados, para melhorar o consumo de energia antes de 2030, criando 160 000 novos empregos no setor da construção.
A transição verde está, assim, a gerar mais emprego, com o Fórum Económico Mundial a prever que, até 2030, cerca de 30 milhões de empregos serão criados, a nível mundial, no setor das energias limpas, eficiência e tecnologias de baixas emissões. No entanto, os empregadores receiam que a incapacidade de atrair talento e a falta de competências nos mercados de trabalho locais sejam os maiores obstáculos à transformação das suas empresas.
Estes desafios no acesso às competências verdes vêm, uma vez mais, exigir estratégias diferenciadas na atração e retenção de talento, por parte das empresas, reforçando a importância da aposta na formação e no reskilling dos trabalhadores, como forma de as empresas criarem o talento capaz de suportar as estratégias de sustentabilidade.
Tendência 5: Há um novo “colarinho” no trabalho e é Verde
As alterações climáticas, com a subida do nível do mar e o aumento da frequência dos fenómenos meteorológicos extremos, têm gerado consenso entre consumidores, governos e líderes de empresas sobre a necessidade de rever os atuais modelos de desenvolvimento económico. Este movimento oferece também uma oportunidade de negócio para as empresas, já que a transição para uma economia mais circular permitirá aumentar a diferenciação, reduzir custos, melhorar a reputação de marca e impulsionar a criação de emprego nas comunidades locais.
No entanto, para poder concretizar a oportunidade da transição para modelos mais sustentáveis, o talento é um fator crítico de sucesso e a luta pelo talento verde tem vindo a intensificar-se. Dados do ManpowerGroup Employment Outlook Survey indicam que 70% dos empregadores, a nível mundial, afirmam que estão atualmente a recrutar de forma ativa para empregos ou competências verdes, ou planeiam fazê-lo. Empregadores de todos os setores a nível global estão especialmente interessados em recrutar para funções/competências verdes em funções técnicas especializadas, tais como Indústria e Produção (36%) e Operações e Logística (31%). No entanto, também procuram competências verdes para funções no domínio das TI & Data (30%), Vendas e Marketing (27%), Engenharia (26%), Administração e Apoio Administrativo (25%) e Recursos Humanos (25%).
Os empregadores precisam de otimizar a planificação estratégica da sua força de trabalho para poder atrair, contratar e fidelizar estes trabalhadores, num contexto de escassez permanente de talento e da crescente procura de talento verde.
A implementação das melhores práticas de ESG, pode ajudar as empresas a melhorar a sua Proposta de Valor de Empregador (EVP), reforçando a sua capacidade de atrair talento. No entanto, reforçar a atração de talento externo não será suficiente para responder às necessidades de competências verdes. Os empregadores deverão também apostar no desenvolvimento do talento interno, mediante iniciativas de upskilling e reskilling, que devem ser amplificadas para responder, em escala, à atual escassez de competências verdes
“É preciso recuar à Revolução Industrial para se encontrar um período tão transformador, para a gestão do talento qualificado, como o que observamos hoje, com a transição para modelos mais sustentáveis. Os ciclos de renovação nas competências mais procuradas continuam a suceder-se a ritmo acelerado e as competências verdes são disso um claro exemplo, sendo atualmente tão escassas como críticas para as empresas concretizarem os seus objetivos de transição energética e maior sustentabilidade. Compete, por isso, aos líderes globais, não só inovar para melhorar a eficiência ambiental das organizações, mas também investir no seu talento interno, mediante upskilling e reskilling em competências verdes, por forma a tirar o máximo potencial do seu capital humano e assegurar a sua capacitação para um futuro do trabalho mais sustentável”, conclui.