Autarquias da área de Lisboa defendem mais investimento e modernização na recolha do lixo



A necessidade maior investimento e de modernização tecnológica dos sistemas de recolha de resíduos e ações de comunicação mais eficazes com os cidadãos foram defendidas por representantes de autarquias da área de Lisboa num encontro sobre higiene urbana.

Representantes de Lisboa, Barreiro e Vila Franca de Xira debateram ontem as principais dificuldades que têm para manter as cidades limpas e que prejudicam o cumprimento das metas do programa de ação ambiental da União Europeia até 2030.

Numa mesa redonda, durante o 5.º Encontro Nacional de Limpeza Urbana, organizado pela Associação Limpeza Urbana no Autódromo do Estoril, Vasco Morgado, presidente da Junta de Freguesia de Santo António, em Lisboa, defendeu que a descentralização de competências para as autarquias, no âmbito da higiene urbana, deveria “ser reestruturada e pensada”.

“Se calhar estava na altura de olharmos para o que estamos aqui a tratar e resolvermos o que está mal, mas que tem de vir com o tal envelope financeiro”, acrescentou.

O autarca afirmou que as autarquias “estão a correr atrás do prejuízo” e precisam de uma descentralização “sem zonas cinzentas”, porque “o munícipe ou o freguês não entende que aquele varre e lava e o outro é que vem recolher os caixotes”.

“Para ele é tudo igual, ele quer é que o problema dele seja resolvido”, defendeu Vasco Morgado.

O debate abordou também a divisão de responsabilidades entre autarquias e cidadão, que muitas vezes não é cumpridor.

Vasco Morgado defendeu que a instalação de ecoílhas em Lisboa tem funcionado, “mas tem agora de ter um ‘upgrade’”, como, por exemplo, a instalação de “sistemas de vídeo segurança para perceber” quem faz depósitos nos sítios errados porque, para que as autarquias apliquem uma coima, “precisam de retirar provas”.

Catarina Conde, diretora do departamento de Ambiente e Espaço Público na Câmara de Vila Franca de Xira, defendeu a necessidade de mais campanhas de sensibilização, sobretudo nacionais, que depois tivessem repercussão pelas autarquias a um nível de proximidade, antes de “passar para uma fase seguinte, mais penalizadora”.

“Toda a gente se lembra ainda hoje [da campanha] do Gervásio. Aquilo que existiu para o Gervásio tem de existir para os biorresíduos, tem de existir para os têxteis e têm de entrar para os outros fluxos de resíduos que vamos ter de separar até 2030”, disse, referindo-se a uma campanha nacional com cerca de 20 anos, na qual a vedeta foi o chimpanzé Gervásio, que aprendeu a separar as embalagens usadas em apenas uma hora e 12 minutos.

No entanto, Vasco Morgado destacou que a sua freguesia todos os anos realiza ações de prevenção e sensibilização e, embora os resultados tenham melhorado, há sempre quem não cumpra.

“Até chegar à multa, já quase lhes pedi ‘por favor’ para não colocarem o lixo a essa hora, mas nem assim”, disse.

Vasco Morgado queixou-se ainda de ter concursos abertos para assistentes operacionais de limpeza urbana que ficam vazios.

“Não estou a dizer que seja atrativo vir para a limpeza urbana, mas efetivamente nós temos de ter onde ir buscar meios humanos para nos ajudar nesta tarefa dura”, disse o autarca, destacando que a sua freguesia tem 12 mil pessoas, mas durante o dia passam por ali 350 mil.

O vice-presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Rui Braga, destacou que está na hora de mudar o sistema de recolha de lixo aproveitando a tecnologia que já existe.

“Porque é que tenho de levantar a tampa do contentor para pôr o lixo? A tecnologia tem de dar uma resposta. Nós temos que trazer para os sistemas de recolha a capacidade e a coragem de olhar para o que temos e de mandar fora. O que temos não funciona. Temos falta de pessoal e nós estamos em 2023 e ainda temos homens pendurados atrás do camião a recolher o lixo. Já há soluções diferentes no mercado, tem de haver capacidade de investimento”, defendeu.

“Esta é a conversa que tem que haver no setor, temos de perceber qual é a nossa capacidade de investimento. Temos de perceber como é que nós vamos financiar isto, porque os atuais sistemas estão obsoletos”, sustentou ainda, salientando que, “se a situação continuar”, Portugal vai “faltar ao cumprimento das metas”.

Vasco Morgado considerou que “muitas vezes não se fazem as coisas por medo político de tomar decisões” sobre os que tem de ser feito.

“Corremos o risco de não irmos a tempo. Temos de andar mais depressa neste caminho”, concordou.

Os responsáveis defenderam ainda a necessidade de se adotar uma comunicação simples, em que se explique às pessoas que o lixo é uma economia relevante e que há empregos que dependem dos resíduos.

“O trabalho diário que [os cidadãos] têm a separar o lixo tem um resultado prático. O não separar, o colocar o lixo no sítio errado, prejudica o trabalho de alguém. O que nós produzimos em casa não é para deitar fora. Tem valor e gera emprego. Existem pessoas que dependem disto”, disse Rui Braga.

“É uma economia de milhões de euros. Por alguma razão, há países onde as câmaras nem tocam nos resíduos urbanos. É preciso explicar [às pessoas] o valor deste negócio”, sublinhou, pelo seu lado o presidente da junta de Santo António.

Segundo a ALU – Associação Limpeza Urbana, Parceria para Cidades + Inteligentes e Sustentáveis, promotora do encontro sobre limpeza urbana, que decorreu entre terça-feira e hoje, o setor emprega mais de 12 mil pessoas e tem um valor acrescentado bruto de cerca de 600 milhões de euros anuais.





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