PRADE: o projeto de reflorestação de área ardida que alia ambiente, investigação e atividade agroflorestal produtiva
O projeto surge no contexto do incêndio que lavrou o território no verão de 2021. Valter Matias, Presidente Conselho de Administração do GUADIMONTE, entidade gestora do projeto, explica os seus objetivos e sublinha que o mesmo poderá vir a inspirar outros projetos a nível regional e nacional.
O PRADE alia ambiente, investigação e atividade agroflorestal produtiva. Quais os objetivos do projeto?
Diria que são quatro, os grandes objetivos do projeto.O primeiro é a implementação de projeto de reflorestação, inserido na área ardida, no incêndio de Castro Marim de 2021, com espécies autóctones de crescimento lento, resilientes e tolerantes a ambientes xéricos, como é o caso da alfarrobeira (Ceratonia Siliqua), o medronheiro (Arbutus unedo) e do sobreiro (Quercus suber) e a azinheira (Quercus ilex).
O segundo recuperar/revitalizar alguma da floresta de produção existente na área de intervenção, sobrevivente ao incêndio, nomeadamente espécies que integram o tradicional pomar de sequeiro Algarvio, tais como a amendoeira, a alfarrobeira, a figueira e a oliveira, bem como os pequenos povoamentos de azinheiras e sobreiros existentes.
Em terceiro lugar a recuperação de solos degradados, através da implementação de povoamentos com estruturas ecológicas mais adaptadas, com maior capacidade de fixação de carbono e nutrientes, de proteção do solo e o aumento do conteúdo em matéria orgânica, alicerçadas em conhecimentos científicos e tecnológicos. Por último, e não menos importante, contribuir para o combate à desertificação do interior do Nordeste Algarvio.
Gostaria ainda de referir que este projeto permitiu pela primeira vez a realização de uma operação de arborização/ reflorestação conjunta, que engloba 23 prédios rústicos pertencentes 12 proprietários. Pela primeira vez através da assinatura de contratos de comodato, foi possível “unificar” área/parcelas de terreno, permitindo quebrar o velho problema do minifúndio que desde sempre foi um obstáculo ao desenvolvimento de projeto estruturantes no território que permitissem o combate/atenuação do fenómeno de desertificação.
Ao consultarmos o Cadastro Predial (CP) da região facilmente verificamos que os concelhos do Nordeste Algarvio são constituídos por uma manta de retalhos de milhares de parcelas. Neste sentido um dos objetivos do PRADE foi o de procurar quebrar a mentalidade de pertença e individualismo da terra que sempre esteve presente neste e noutros espaços rurais.
Qual o investimento e quais os parceiros do projeto?
O investimento aprovado foi de 810.941,41 € e os parceiros do projeto são o GUADIMONTE (entidade gestora), Município de Castro Marim, CONFAGRI e UALG. O projeto PRADE surge no contexto do incêndio que lavrou o território no verão de 2021.
A missão é agora qual?
A missão continua a ser o combate à desertificação, recuperação de solos degradados, devido a fenómenos diversos (erosão, incêndios (2004 e 2021), abandono das terras, inexistência de cultivos, fertilizações, reduzida matéria orgânica nos solos).
É nosso objetivo expandir a área de intervenção deste projeto a outros terrenos, no sentido de continuar a reflorestar/ arborizar uma das zonas mais pobres de Portugal, com o índice mais grave de suscetibilidade à desertificação, que mereceu em 2024 a definição da primeira área piloto de combate à desertificação do Algarve, que deu origem à aprovação da Estratégia de Combate à Desertificação – “Estratégia das Furnazinhas”, desenvolvida pela Sub-Comissão Regional do Algarve de Combate à Desertificação.
Por um lado, vamos procurar ampliar a área de intervenção do projeto PRADE, através da assinatura de mais contratos de comodato, uma vez que rede de rega foi projetada a pensar nesta ampliação e por outro lado não descartamos a ideia de replicar o projeto em outras áreas dos concelhos abrangidos pela nossa área de intervenção.
O que é que esta intervenção engloba ainda?
Esta intervenção para além da parte mais terrena, que englobou todos os trabalhos de silvicultura e reflorestação/arborização e instalação do sistema de rega, engloba ainda uma parte de investigação que foi desenvolvida pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve. Este trabalho de investigação englobou 2 blocos de atividades: Trabalhos preparatórios de reconhecimento, diagnóstico, e análise de solos da área de intervenção.
Neste bloco foi realizada a caracterização da área de intervenção, tendo por base parâmetros como, a localização, exposição solar, mapeamento, tipo de solos, declives, identificação das espécies arbóreas e arbustivas autóctones, bem como a identificação das características físicas (textura, fertilidade, profundidade, humidade, etc.) e químicas do solo, com vista a obter informações necessárias para otimizar a fertilização dos solos No segundo bloco foram realizados ensaios, monotorização de espécies e testes de germinação/ sobrevivência, bem como estudos e ensaios com vista a definir métodos inovadores de regadio de poupança de água.
Quem vai realizar ensaios, monitorização de espécies e testes de germinação/ sobrevivência e quem acompanhará o projeto no terreno?
Os ensaios e monotorização foram desenvolvidos pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve e o projeto técnico foi desenvolvido pela equipa técnica da CONFAGRI, que teve a responsabilidade de definir o projeto de Reflorestação/arborização, com base nos resultados dos trabalhos preparatórios desenvolvidos pela UALG. O projeto ficará agora a cargo da GUADIMONTE, sendo que a universidade irá continuar a desenvolver a atividade de monotorização das plantas, apesar do projeto ter terminado a 31/12/2023.
De que forma é que o projeto poderá vir a inspirar outros projetos a nível regional e nacional?
A inspiração poderá refletir-se essencialmente ao nível do desenvolvimento de novos projetos de reflorestação dos territórios do interior, onde deverão ser realizados esforços no sentido de agregar parcelas /prédios rústicos por forma a realizar intervenções mais planeadas e sustentáveis quer a nível ambiental, quer a nível social e económico. A utilização de espécies autóctones e a valorização das mesmas é outras das inspirações que queremos passar a outros projetos futuros. Por um lado, os consumos de água associados as estas plantações são reduzidos, pois são espécies que se adaptam muito bem a ambientes extramente xéricos. Para além da alfarrobeira e do medronheiro, existem outras espécies autóctones, que também queremos valorizar, tal como a amendoeira e o figo que a par da alfarrobeira, constituem o tradicional pomar de sequeiro Algarvio.
Em que ponto se encontra a construção a Rede de Rega da Eira da Zorra, para assegurar reflorestação da área ardida, no âmbito do Projeto de Reflorestação da Área Degradada – PRADE?
Encontra-se concluída, com toda a instalação de equipamentos e infraestruturas instaladas. Entre as infraestruturas e equipamentos refere-se a abertura de um furo artesiano, instalação de eletrobomba e de um reservatório Genap de 526m3, instalação de 5 km de condutas principais com ligação a 13 hidrantes, colocação de condutas secundárias, rampas e gotejadores em toda área plantação (52 ha), colocação de equipamento de automatismo de rega incluindo módulo de comunicações e instalação de quadro elétrico e respetiva cabelagem e acessórios, colocação de sistema de Fertilização junto ao Sistema de bombagem, do tipo fertirrega.