REPORTAGEM: Neve altera rotinas de quem vive e trabalha em aldeias de Montalegre
A neve que caiu hoje com intensidade veio alterar rotinas em Sendim com os estudantes a ficarem em casa, as vacas nos currais e os populares a juntarem-se no único café daquela aldeia do concelho de Montalegre.
O café de Fátima Garcia, 65 anos, torna-se nestes dias no ponto de encontro de quem vive nesta que dizem ser uma das aldeias mais altas de Portugal.
José António Miranda contou que há dois dias andava de manga curta, devido ao tempo agradável que se fazia sentir e hoje acordou com a paisagem coberta de neve.
“Isto assim é que é o nosso normal, aqui da nossa zona, é o frio, aqui é raro o ano que a neve não vem”, referiu.
Por precaução por causa da neve e do gelo, os transportes escolares foram suspensos no concelho do Norte do distrito de Vila Real e cerca de 600 alunos ficaram em casa.
Marisa Garcia, 17 anos, foi avisada esta manhã e confessou que ficou contente com a notícia, até porque hoje tinha um teste para fazer. O dia vai ser passado de forma diferente, a aproveitar a neve, no café e mais por casa onde diz que sabe bem estar à lareira.
A neve altera as rotinas de quem vive e trabalha nesta aldeia serrana. As vacas de Sandra Garcia, 42 anos, vão ficar no curral durante o dia de hoje. “É um feriado para nós também, para os pastores”, salientou, embora explique que tem que ir alimentar os animais e tocar o feno que lhes serve de cama.
O frio e a neve são bem-vindos para quem trabalha na terra. O frio mata as pragas e a neve infiltra-se na terra, segundo Sandra Garcia, “mais até do que a chuva”.
Pedro Esteves, 48 anos, tem seis vacas que hoje também não saem para os lameiros.
“Estamos aqui a 1.150 metros de altitude e, para nós, já é normal a neve, mas este ano veio assim de repente, já não contávamos com ela. Tivemos 20 e tal graus na semana passada”, afirmou o produtor.
Pedro Esteves mostrou-se preocupado com as grandes diferenças de temperatura em tão pouco tempo.
“Tenho cá bastante gente graças a Deus. Passamos aqui o dia, entretemo-nos a beber, a botar uma conversa, a jogar umas cartas”, referiu a proprietária do café “Fronteira Velha”.
Na lareira do café, que serve de aconchego, assam-se alheiras e linguiças e, segundo a proprietária, estes são dias bons para o negócio.
“Agora não neva tanto. Houve aqui nevadas que, cuidado, para passar era mais de 15 dias ou um mês e, agora é um dia e não aguenta mais”, salientou Fátima Garcia.
Pelo município, há hoje veículos limpa-neves a limpar as estradas e também equipas a espalhar sal para evitar a formação de gelo.
Em comunicado, a Proteção Civil Municipal de Montalegre disse esta manhã que a “evolução do estado do tempo está a ser acompanhada em permanência, sendo que as corporações de bombeiros do concelho (Montalegre e Salto), bem como as equipas camarárias, estão no terreno para o mais rapidamente possível, repor as condições de segurança para a normal circulação nas vias, assegurando a mobilidade de todos”.
No concelho vizinho de Boticas, também nevou na serra do Barroso, zona de Alturas do Barroso, mas o trabalho preventivo da Proteção Civil que limpou as estradas e espalhou sal permitiu a passagem dos transportes escolares.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou o distrito de Vila Real sob aviso amarelo, devido à queda de neve acima dos 800 metros, com acumulação acima de 1000 metros.