Podemos revolucionar a indústria química e criar uma economia circular? Sim, com a ajuda de catalisadores
A indústria química é uma pedra angular do desenvolvimento global, impulsionando a inovação e fornecendo produtos essenciais que apoiam o nosso modo de vida moderno.
No entanto, a sua dependência de recursos fósseis insustentáveis tem colocado ameaças significativas aos ecossistemas globais através das alterações climáticas e da poluição química.
Um novo comentário publicado na revista OneEarth da Cell Press, em coautoria com investigadores da Universidade de Griffith, apresenta uma solução transformadora: a catálise para alavancar recursos de resíduos sustentáveis, conduzindo a indústria de uma economia linear para uma economia circular.
“Se olharmos para as estatísticas recentes, a indústria química contribui com uns impressionantes 5,7 biliões de dólares para a economia global e mantém 150 milhões de empregos em todo o mundo, excluindo os combustíveis fósseis refinados”, afirma a Professora Karen Wilson, uma das principais autoras e Diretora do Centro de Catálise e Energia Limpa da Griffith.
“Mas continua a ser o maior consumidor de energia industrial e o terceiro maior emissor de emissões diretas de CO2 em todo o mundo”, acrescenta.
Em 2022, a indústria emitiu 935 milhões de toneladas métricas de CO2 durante a produção de produtos químicos primários. Além disso, suas operações levaram a uma contaminação significativa da água e à liberação de produtos químicos tóxicos no meio ambiente, perpetuando um ciclo de danos ecológicos.
O coautor principal, o Professor Adam Lee, também sediado em Griffith, afirmou: “Os processos catalíticos poderiam minimizar a dependência de combustíveis fósseis finitos e reduzir significativamente as emissões de CO2, aproveitando os resíduos agrícolas, urbanos e plásticos como matérias-primas.
“Esta transição de matéria-prima não só mitiga os danos ambientais, como também aborda as vulnerabilidades da cadeia de abastecimento da indústria, que são suscetíveis a perturbações geopolíticas e naturais”, explica.
O professor acrescentou que a “catálise tem desempenhado historicamente um papel fundamental na transformação de recursos fósseis em combustíveis e produtos essenciais, e agora oferece um farol de esperança para revolucionar a indústria química e promover uma economia circular”.
No entanto, os autores reconhecem que esta visão exige uma inovação concertada na formulação de catalisadores e na integração de processos.
“Dar prioridade aos elementos abundantes na Terra em detrimento dos metais preciosos irá desbloquear sistemas catalíticos sustentáveis para a conversão eficiente de resíduos orgânicos em produtos benignos e recicláveis”, afiança Wilson.
“Iniciativas pioneiras, como a co-localização de diferentes indústrias em Kalundborg, na Dinamarca, para promover a simbiose, já demonstraram novos modelos de colaboração para melhorar a eficiência dos recursos e a redução dos resíduos”, adianta.
“A catálise oferece um caminho para a sustentabilidade, permitindo-nos transformar resíduos em recursos valiosos e abrir caminho para uma economia circular”, conclui.