CUF descarboniza blocos operatórios, responsáveis por 70% dos resíduos hospitalares
O setor da saúde, em Portugal, tem uma pegada ecológica que equivale a 4,8% das emissões líquidas globais de gases com efeito de estufa (GEE), “uma percentagem superior à média europeia”, divulga o Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA). “Estas provêm de diversas fontes, desde o consumo de energia até ao tratamento de resíduos, sendo os blocos operatórios identificados como um ponto crítico. Estes geram 70% dos resíduos hospitalares contribuindo com até seis vezes mais emissões de carbono em comparação com outras áreas hospitalares”, explica Mariana Ribeiro Ferreira, Diretora de Cidadania Empresarial da CUF.
Ao analisarem os blocos e os resíduos gerados, verificaram que a componente anestésica era uma das principais fontes de poluição, contribuindo com 50% a 60% de todas as emissões associadas. “Apenas uma pequena percentagem dos gases anestésicos é metabolizada pelos pacientes, com a maioria sendo exalada e ventilada diretamente para o exterior, libertando-os na atmosfera”, explica. O gás desflurano, um dos anestésicos mais utilizados, está identificado como o pior vilão.
“Em 2022, medimos o peso dos gases anestésicos na pegada da CUF e, no cálculo da pegada de carbono relativa ao ano de 2021, e foi identificado que os gases anestésicos representavam o peso equivalente à frota de veículos (14% cada) na pegada total da CUF”, contabiliza a responsável. Diante deste dado significativo, iniciaram um projeto de transformação com base em boas práticas de hospitais internacionais, designadamente numa iniciativa do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, uma referência de sustentabilidade no setor da saúde, que promoveu a redução do uso do desflurano.
Para Mariana Ribeiro Ferreira, a principal inovação consistiu em trabalhar a disrupção na abordagem aos procedimentos cirúrgicos, no cerne do hospital, o qual é o bloco cirúrgico, deliberando com as equipas de Farmácia e Anestesiologia novos protocolos, incorporando o uso do sevoflurano, um fármaco que possui uma pegada ambiental muito menor. Com a mesma garantia de segurança para os doentes. Não foram identificados custos adicionais, seja em relação a dispositivos, fármacos ou recursos humanos, sendo necessárias apenas alterações procedimentais.
A implementação desta mudança foi gradual, iniciando-se com um projeto-piloto no Hospital CUF Tejo em 2022, sendo posteriormente adotado em 85% dos hospitais da rede CUF com bloco operatório até ao final de 2023. Este projeto resultou numa redução de 800 toneladas de CO2 emitidas para a atmosfera, o que representa uma diminuição de 46%. “A CUF prevê que, em 2024, a redução das emissões CO2 provenientes desta fonte represente cerca de 80%, em comparação com 2022”, afiança.
Em 2023, esta entidade hospitalar realizou ainda um diagnóstico da sua pegada ecológica, seguido pela definição de uma estratégia de descarbonização em toda a rede, estando atualmente a planear e implementar medidas, com vista à redução de resíduos. Além desta iniciativa, começaram um piloto em novembro de 2022 para recuperar o Blue Wrap – Tecido Não Tecido, atualmente descartado como resíduo hospitalar indiferenciado e enviado para aterro. O envoltório azul é um tecido plástico tipo 5 composto de polipropileno, utilizado para embrulhar caixas com material cirúrgico. Este material possui características de alta qualidade e relevância como ser térmico, resistente à água, poroso a gases e resistente à pressão. “Seguindo exemplos internacionais, esse material tem sido reaproveitado de diversas formas, para cobertores, capas, bolsas, moletons, travesseiros e ponchos”, enumera Mariana Ribeiro Ferreira.
Em 2023, foram doados cerca de 2000 quilos de Tecido-Não-Tecido (TNT) à EntrAjuda, uma instituição de solidariedade social e operadora de resíduos certificada para REE (Resíduos Elétricos e Eletrónicos), com prática na valorização de bens e equipamentos não alimentares para reutilização ou correta reciclagem, no âmbito do Banco de Bens Doados.
Relativamente à eficiência energética, a CUF estabeleceu, em 2023, a diminuição do consumo de eletricidade como objetivo transversal para todos os seus colaboradores e nesse âmbito foram implementadas diversas ações de melhorias, como o aumento da performance dos Sistemas de Automação e Controle de Edifícios, com otimização dos horários da iluminação em zonas assistenciais, estacionamentos e zonas técnicas. “Esta alteração permitiu conter o aumento das necessidades energéticas decorrentes do crescimento da atividade e possibilitou uma compreensão mais aprofundada da desagregação de consumos por piso, sistema e equipamento”, explica a Diretora de Cidadania Empresarial da CUF.
Substituíram integralmente a iluminação para tecnologia LED em zonas assistenciais dos hospitais e clínicas CUF, de serviço e de estacionamento e fizeram uma alteração de bombas de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado (AVAC) de caudal constante por bombas de caudal variável, com integração no Sistema de Automação e Controlo do Edifício, para permitir o controlo por pressão e temperatura, adaptando o tempo de funcionamento à necessidade real, bem como a substituição de variadores de velocidade em bombas de circulação de água. A responsável, termina dizendo que a CUF implementa, ainda, processos de recolha, monitorização e comparação dos resultados ambientais na sua rede de hospitais e clínicas. Esta metodologia permite a identificação e transversalização das melhores práticas.
O setor da saúde tem um papel importante no impacte ambiental. Isto porque cada cama hospitalar gera, por dia, cerca de seis a oito quilos de lixo, o correspondente a mais de 100 mil toneladas por ano. A pegada ecológica de um doente em internamento é cerca de quatro vezes superior à de um cidadão vulgar. O CPSA defende, por isso, que a redução desta pegada ecológica exige uma estratégia nacional. Defende ainda a definição de metas claras para o sistema de saúde que visem zero emissões em 2035 em tudo o que dependa diretamente do sistema de saúde e em 2040 para o que dependa indiretamente.