“A sustentabilidade tem um peso cada vez maior na escolha do consumidor”, José Borralho, ConsumerChoice
Em entrevista à Green Savers, o CEO da ConsumerChoice, José Borralho, fala-nos sobre o sistema de avaliação de marcas, o lançamento da “Escolha Sustentável” e aborda ainda o tema da nova legislação para tornar os produtos no mercado da UE mais sustentáveis.
São a empresa líder no desenvolvimento de sistemas de avaliação de marcas. Como é que validam as boas práticas das empresas nesta matéria a fim de as avaliar?
Em todos os sistemas de avaliação que criamos, a nossa preocupação está sempre na aplicação de metodologias rigorosas e suficientemente abrangentes, que nos permitam validar as boas práticas das empresas. No caso específico da Escolha Sustentável, o processo inclui auditoria detalhada e revisão de documentação, bem como análise por experts em termos da análise de indicadores-chave de desempenho (KPIs) e depois análise de percepção pelos consumidores. Queremos assegurar que as práticas de sustentabilidade e responsabilidade são genuínas e eficazes. O nosso objetivo é garantir que as empresas reconhecidas com a Escolha Sustetável, não apenas cumpram os requisitos legais, mas também excedam as expectativas em termos de impacto social, económico ou ambiental.
Quanto tempo demora, em média, esta auditoria nas empresas?
Em média, uma auditoria completa nas empresas pode levar de três a seis meses, dependendo da complexidade e do tamanho da organização. Este período inclui a fase de preparação, recolha de dados, análise detalhada e a elaboração do relatório final. A duração também pode variar conforme o nível de cooperação e a disponibilidade de informações por parte da empresa.
A ConsumerChoice Portugal premiou, pela primeira vez, 11 marcas com o seu sistema de avaliação ‘Escolha Sustentável’, lançado no ano passado. Como é que surgiu esta ideia e qual o objetivo?
A ideia do sistema de avaliação ‘Escolha Sustentável’ surgiu da necessidade crescente de promover e reconhecer práticas empresariais de sustentabilidade. Fala-se muito em sustentabilidade, de uma forma geral associada ao ambiente, mas a sustentabilidade vai mais longe e também abrange as áreas sociais e económicas. Por outro lado, os sistemas de certificação existentes não são do conhecimento do consumidor e nem estes se revêm neles. Ao criarmos a “Escolha Sustentável”, conseguimos através da avaliação de produtos, serviços e medidas na área social, económica e ambiental, envolver especialistas e consumidores, conseguindo destacar as empresas que se comprometem com a sustentabilidade e estão a desenvolver esforços, por vezes não reconhecidos publicamente, incentivando outras a seguir o mesmo caminho. Queremos ser um facilitador da identificação de marcas que fazem a diferença em termos ambientais, sociais e económicos, ajudando os consumidores a tomar decisões informadas e responsáveis.
Que peso é que já tem a sustentabilidade na escolha do consumidor?
A sustentabilidade tem um peso cada vez maior na escolha do consumidor. Há diversos Estudos que indicam que uma parcela significativa dos consumidores prefere produtos e serviços de empresas que demonstram um compromisso claro com práticas sustentáveis. Esta tendência é particularmente forte entre as gerações mais jovens, que estão mais conscientes dos impactos ambientais e sociais de suas escolhas de consumo. Contudo, ainda há muita iliteracia sobre o tema e é preciso também dar a conhecer os impactos concretos dessas escolhas. E neste ponto a disponibilidade para pagar um preço mais caro por uma oferta sustentável, é de crucial importância. Num país nórdico, com um consumidor mais informado, consciente e com poder de compra isto não é um tema, em Portugal ainda o é.
Do rol das primeiras premiadas pelo sistema de avaliação ‘Escolha Sustentável’ fazem parte a Prio, a Fidelidade, a GlobalTribe, os Laboratórios Expanscience, a Óculos para Todos, a Saint-Gobain, a Goldenergy, a iServices, a Norauto, a Phenix Portugal e a Trivalor. O que tinham de ter estas marcas para poderem receber o selo de sustentabilidade?
Para receberem a “Escolha Sustentável”, estas marcas tiveram que demonstrar um compromisso sólido e comprovado com práticas sustentáveis. Isso incluiu desde a implementação de políticas ambientais rigorosas, a adoção de processos de produção ecológicos, a promoção de responsabilidade social, a transparência nas suas operações, a inovação em determinados sectores, etc… Cada empresa foi submetida a uma avaliação detalhada e especifica para assegurar que as suas práticas não só cumprem, mas excedem os padrões de sustentabilidade.
Um estudo da ConsumerChoice sobre o impacto da inflação no dia-a-dia da população revela que 40% dos consumidores reconheceram que o aumento dos preços “impacta significativamente a sua qualidade de vida”. “Preocupação”, “pessimista”, “péssimo”, “angústia” e “desilusão” listam-se entre as palavras mais utilizadas no relatório para descrever a situação económica. De que forma é que isto impacta a escolha sustentável dos consumidores?
Esta pergunta vai de encontro ao que referia mais acima, o preço vs a capacidade económica do consumidor vem condicionar a sua decisão de compra. Com a pressão financeira, muitos consumidores podem priorizar, de imediato, o preço sobre a sustentabilidade, optando por produtos mais baratos em vez de escolhas sustentáveis. No entanto, também existe um segmento de consumidores que vê a sustentabilidade como uma forma de investimento a longo prazo, continuando a apoiar marcas sustentáveis, mesmo em tempos económicos difíceis. Agora, se na compra de produtos o factor preço é parte condicionante na decisão de compra, começa a ser muito óbvio a disponibilidade de serviços e medidas que não comportam acréscimo de preço, porque a maioria dessas empresas, que os promovem, assumem parte integrante do custo ou recorrem a tecnologia que torna o eventual acréscimo de preço inexistente. Estaremos portanto em alguns casos perante uma situação de mera percepção errada do preço.
Como é que olha para a nova legislação para tornar os produtos no mercado da UE mais sustentáveis?
Penso que a nova legislação da UE para tornar os produtos mais sustentáveis é, claramente, um passo positivo e necessário para enfrentar os desafios ambientais, sociais e económicos atuais. Esta legislação estabelece padrões mais elevados de sustentabilidade que as empresas devem seguir, incentivando-as a inovar e a adotar práticas mais responsáveis.
Ao impor requisitos rigorosos sobre a origem dos materiais, a eficiência energética, a durabilidade dos produtos e a reciclabilidade, a legislação visa reduzir a pegada ambiental dos produtos desde a sua produção até o fim do ciclo de vida. Isso pode diminuir significativamente as emissões de gases de efeito estufa, a poluição e o desperdício, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas e a conservação dos recursos naturais.
A legislação também pode ter efeitos positivos na esfera social, promovendo condições de trabalho mais justas e a responsabilidade social corporativa. Ao exigir maior transparência nas cadeias de abastecimento, a UE pode ajudar a combater práticas como o trabalho infantil e forçado, promovendo um comércio mais ético e sustentável.
Economicamente, a legislação pode impulsionar a competitividade das empresas europeias ao incentivar a inovação e a liderança em tecnologias verdes. As empresas que investem em sustentabilidade podem ganhar uma vantagem competitiva, atraindo consumidores que valorizam práticas responsáveis e estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis. Além disso, pode abrir novas oportunidades de mercado e fomentar o desenvolvimento de novas indústrias e empregos verdes.
E, claro, para os consumidores, a legislação traz benefícios significativos, proporcionando acesso a produtos mais seguros, duráveis e de melhor qualidade. A clareza nos rótulos e a transparência nas informações sobre a sustentabilidade dos produtos permitem que os consumidores façam escolhas mais informadas e alinhadas com os seus valores. Isso fortalece a confiança do consumidor nas marcas e promove um mercado mais justo e responsável.