Presidente cabo-verdiano defende património cultural contra subida do mar
O Presidente cabo-verdiano pediu atenção para o impacto menos estudado da subida do nível do mar na destruição de património cultural, sugerindo ações imediatas, ao discursar num encontro nas Nações Unidas.
“Ao mesmo tempo que abordamos as consequências materiais da subida do nível do mar, não devemos ignorar o seu profundo impacto sobre a preservação do património cultural e dos conhecimentos tradicionais”, referiu José Maria Neves, na quarta-feira, numa reunião temática de alto nível, a par da Assembleia Geral das Nações Unidas, a decorrer em Nova Iorque.
Segundo a intervenção hoje divulgada, o chefe de Estado cabo-verdiano defendeu três ações imediatas: a elaboração de cartografia de sítios de importância cultural, a preservação de artefactos e a documentação de histórias orais e costumes locais, “assegurando, assim, a manutenção da identidade cultural”.
“Nos casos em que a preservação física dessa herança cultural seja muito difícil ou até mesmo impossível, o uso de ferramentas digitais para documentar paisagens culturais, arquitetura e artefactos representa uma alternativa para reter o conhecimento cultural para as gerações futuras”, acrescentou.
José Maria Neves anunciou, na quarta-feira, ao intervir na 79.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, que o arquipélago vai acolher, em 2025, um encontro de alto nível dedicado ao tema da crioulidade atlântica, com a participação de académicos, historiadores, cientistas sociais, estudiosos das línguas crioulas, artistas, entre outros.
No mesmo discurso, o chefe de Estado defendeu a restituição de bens culturais a África e outras regiões do mundo para preservação da cultura e espiritualidade local.
Durante encontros à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente cabo-verdiano participou ainda, na quarta-feira, num debate da presidência eslovena do Conselho de Segurança.
“O multilateralismo precisa ser resgatado e reformas políticas são necessárias para reforçar o papel das Nações Unidas na gestão da paz e segurança, dos direitos humanos e do desenvolvimento”, referiu.
No detalhe, José Maria Neves apelou a uma “reforma do Conselho de Segurança, abrangendo a expansão dos seus membros, uma representação regional equilibrada, uma melhor complementaridade com a Assembleia Geral e uma menor interferência do direito do veto nas decisões”.
“Em Cabo Verde, acreditamos que os dividendos que resultam da paz são as liberdades, a democracia e o desenvolvimento. Desde o primeiro momento, assumimos a paz como um desígnio nacional”, disse, concluindo: “Teremos um mundo melhor se cada um de nós fizer o seu trabalho de casa”.