Ativista moçambicana Anabela Lemos e JA! premiados por dedicação à justiça ambiental
A ativista moçambicana Anabela Lemos e a sua organização Justiça Ambiental! (JA!) foram premiados este ano pela fundação ‘Right Livelihood’ pela sua dedicação à justiça ambiental, anunciou hoje a organização.
Anabela Lemos foi reconhecida pela ‘Right Livelihood’ por se opor a projetos de exploração em Moçambique, nomeadamente através da “Campanha Diga Não ao Gás”, que chamou a atenção internacional para as lutas ambientais e de direitos humanos no país, explicou em comunicado a fundação sueca.
“A JA! é conhecida pela sua defesa global, particularmente, desde 2007, contra o projeto de extração de gás ‘Mozambique LNG’, de 24 mil milhões de dólares [cerca de 22 mil milhões de euros] em Cabo Delgado – na região norte do país – apoiado pela TotalEnergies”, contextualizou.
A JA! criou alianças com a sociedade civil em mais de 23 países para contestar este projeto e, ao fornecer provas críticas no terreno dos danos do mesmo para as comunidades locais, “a organização expôs violações dos direitos humanos e crimes empresariais, atrasando, com êxito, o progresso do ‘Mozambique LNG'”, explicou.
De acordo com a fundação, “tendo em conta o ambiente politicamente opressivo de Moçambique, a JA! é uma das poucas organizações no país que se atreve a contestar projetos tão prejudiciais”.
Durante mais de 20 anos, Anabela Lemos e a JA! têm trabalhado “de forma corajosa ao lado das comunidades afetadas” para combater projetos liderados pelo Governo e por empresas “que causam deslocações, prejudicam os meios de subsistência e intensificam as alterações climáticas”, declarou.
Anabela Lemos e a JA! são os primeiros premiados pela fundação em Moçambique.
“O prémio vai dar-nos visibilidade e proporcionar-nos, a mim e à JA!, a garantia de que o trabalho que fazemos é valioso e importante”, declarou a ativista, citada em comunicado.
“[Este reconhecimento] mostra que não somos apenas um grupo de pessoas que se opõem ao desenvolvimento sem qualquer razão. Corremos riscos porque acreditamos no nosso trabalho”, acrescentou.
Moçambique é rico em recursos naturais, mas a extração dos mesmos tem beneficiado largamente as empresas estrangeiras e as elites governamentais e não as comunidades locais, criticou.
Anabela Lemos nasceu em Maputo, Moçambique, em 1953, e a sua jornada de ativismo começou em 1998, quando liderou uma campanha contra uma fábrica de incineração de resíduos apoiada pela Dinamarca, perto da sua casa na Matola, um centro industrial perto da capital, Maputo, indicou a fundação.
“O trabalho de Lemos e da JA! não é isento de riscos, num país onde a sociedade civil está a diminuir e a repressão governamental está a aumentar”, lamentou.
“A JA! enfrenta ameaças constantes e seu escritório já foi assaltado. Dados e discos rígidos foram roubados, e amigos, colegas e parceiros foram mortos”, lamentou.
A luta pela justiça ambiental em Moçambique está longe de terminar, referiu.
“Lemos acredita que a verdadeira mudança só pode acontecer quando nos afastarmos de um modelo de desenvolvimento orientado para o lucro e nos aproximarmos de um modelo que dê prioridade às pessoas e ao ambiente”, citou.
Entre os premiados pela fundação ‘Right Livelihood’ estão também Joan Carling, das Filipinas, “por levantar as vozes indígenas face ao colapso ecológico global e pela sua liderança na defesa dos povos, terras e cultura”; Issa Amro, da Palestina, através do projeto ‘Youth Against Settlements’ (Jovens contra os colonatos), “pela sua inabalável resistência não violenta à ocupação ilegal de Israel, promovendo a ação cívica palestiniana através de meios pacíficos”, e a organização britânica ‘Forensic Architecture’ (Arquitetura Forense), fundada e dirigida por Eyal Weizman, “por ser pioneiro em métodos forenses digitais para garantir a justiça e a responsabilização [em casos de] vítimas e sobreviventes de violações dos direitos humanos e ambientais”.
Os premiados deste ano serão homenageados durante a apresentação televisiva dos prémios em Estocolmo, em 04 de dezembro.
A ‘Right Livelihood’ tem premiado e apoiado “pessoas corajosas que resolvem problemas globais” desde 1980, disse.
“Todos os anos, a fundação destaca os agentes de mudança através de um prémio. Até à data, 198 premiados de 77 países receberam a distinção”, concluiu.