Jovem que atirou tinta a Montenegro diz que não quis danificar roupa do atual PM



O ativista da Greve Climática Estudantil, Vicente Fernandes, disse hoje em julgamento que não pretendeu danificar o vestuário de Luís Montenegro quando em fevereiro atirou tinta verde ao então líder da Aliança Democrática e atual primeiro-ministro.

“Acredito que pequenas ações podem mudar o curso das coisas [alterações climáticas]. Não pretendia prejudicar o vestuário de Luís Montenegro, mas alertar para o problema” dos combustíveis fósseis, declarou o estudante e arguido, de 19 anos.

Vicente Fernandes está acusado de três crimes de dano, todos relacionados com alegados prejuízos que a tinta causou no vestuário do atual primeiro-ministro, de uma fotógrafa do CDS e ainda de um polícia de serviço no evento de campanha eleitoral na FIL, em Lisboa.

Luís Montenegro, que foi atingido com a tinta verde na face, cabelo e vestuário, foi um dos queixosos que deduziu pedido de indemnização civil, tendo fonte ligada ao processo confirmado aos jornalistas que o atual primeiro-ministro pede 1.750 euros pelos danos causados no seu fato.

Isabel Santiago, a fotógrafa, pede mais de 450 euros de indemnização, conforme precisou o seu advogado João Pinheiro da Silva, e o agente policial pediu uma indemnização por danos na roupa, alegando hoje, ao ser ouvido como testemunha em julgamento, não ter conseguido retirar as manchas de tinta apesar das lavagens.

Vicente Fernandes, que antes de atirar tinta ao atual primeiro-ministro só teve tempo de gritar “Montenegro defende a indústria fóssil”, pois foi imediatamente agarrado por polícias, alegou que a tinta que utilizou era “lavável e ecológica”, sendo à base de água. Acrescentou ainda que era “superlavável”.

Em sua defesa Vicente Fernandes mencionou em julgamento que estava hoje com o mesmo casaco e os ténis Adidas que usou na ação ocorrida em 28 de fevereiro, tendo-lhe sido fácil retirar a tinta verde que também lhe manchou o vestuário, após ser agarrado e detido.

Em resposta à juíza, o arguido justificou que escolheu realizar a ação contra Montenegro e não contra outro partido porque a AD só dedicava quatro páginas à ação climática.

Questionado pela juíza sobre se sabia quantas páginas tinham os programas dos restantes partidos, o jovem não soube precisar.

Interrogado pelo advogado João Pinheiro da Silva, o arguido disse lamentar os prejuízos e as consequências causadas pela tinta arremessada e que visava unicamente Luís Montenegro, reiterando que a intenção do protesto foi exigir um “plano para o fim do fóssil até 2030”, aproveitando o mediatismo que aquele acontecimento poderia trazer para os defensores da causa ambiental.

“Tentei ao máximo que a tinta não chegasse a outras pessoas”, acrescentou o arguido.

Na sessão de hoje foram ainda ouvidos quatro polícias que presenciaram o incidente, tendo a próxima audiência de julgamento ficado marcada para 06 de novembro.

À saída do tribunal, João Pinheiro da Silva, advogado da fotógrafa atingida com tinta, afastou para já qualquer possibilidade de desistência da queixa, considerando que o arguido, apesar de “lamentar as consequências”, não manifestou “qualquer arrependimento” e até exibiu orgulho na ação praticada.

Vicente Fernandes, estudante de Ciência Política e Relações Internacionais, tem como advogadas de defesa Carmo Afonso e Madalena Vaz da Silva.

Testemunha de defesa neste julgamento e porta-voz da Greve Climática Estudantil, Matilde Ventura, alertou por sua vez em comunicado que “as secas, ondas de calor, cheias e incêndios só irão piorar enquanto os governos nada fizerem para pôr um fim aos combustíveis fósseis.”

A porta-voz do grupo diz ainda que, “só em 2023, 1.432 pessoas morreram em Portugal devido a ondas de calor”, e acusa Montenegro de inação face ao flagelo.

Vários elementos do movimento compareceram hoje no exterior do tribunal para manifestar a solidariedade para com Vicente Fernandes.





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