Milhões de anos antes dos humanos, estas formigas já dominavam a agricultura



A agricultura terá surgido há cerca de 12 mil anos, quando os humanos começaram a dominar o crescimento e produtividade de espécies vegetais em proveito próprio. Mas não fomos os primeiros a lá chegar.

As formigas-cortadeiras já cultivavam fungos há 60 milhões de anos nos túneis dos seus ninhos labirínticos. Esses pequenos artrópodes nativos das Américas são conhecidos, como o nome comum sugere, por cortarem e levarem pedaços de folhas para os formigueiros para servirem de alimento a fungos, da espécie Leucoagaricus gongylophorus.

Essas formigas não são capazes de digerir os nutrientes contidos nas folhas, pelo que recrutaram uma ajuda fúngica, através de algo que se poderia chamar de domesticação. O fungo decompõe as folhas e as formigas, ao ingerirem o fungo, obtêm, por fim, os nutrientes de que precisam.

As cortadeiras podem ser espécies do género Acromyrmex ou Atta, mas todas, salvo raras exceções, cultivam o mesmo tipo de fungo. A relação entre a formiga e o fungo é de tal forma estreita, que, ao longo de milhões de anos de evolução, tornaram-se absolutamente dependentes um do outro.

Agora, uma investigação internacional liderada pela Universidade de Copenhaga (Dinamarca) vem desvendar os segredos dessa relação íntima e co-dependente.

Os cientistas perceberam que o fungo L. gongylophorus sofreu alterações genéticas que lhe permitem formar estruturas específicas, únicas no mundo dos fungos, nas quais acumulam nutrientes resultantes da decomposição das folhas oferecidas pelas formigas. E estas últimas vão arrancando pequenos pedaços a esses “reservatórios nutritivos”, sem comprometer a sobrevivência do próprio fungo, algo como arrancar uma maçã de uma árvore.

É por isso que esse fungo é “o parceiro perfeito das formigas”, diz, em comunicado, Caio Leal-Dutra, primeiro autor do artigo publicado na revista ‘Molecular Biology and Evolution’. Além disso, o ADN do fungo contém genes que lhe conferem uma grande capacidade de adaptação a diversas condições ambientais, o que tem permitido manter essa parceria ao longo de milénios e em diferentes tipos de habitats, razão pela qual é cultivado por várias espécies de cortadeiras.

Os investigadores acreditam que os humanos têm muito a aprender com estas laboriosas formigas, sobretudo no que diz respeito à agricultura sustentável.

“Compreender a resiliência a longo-prazo dos sistemas de cultivo das formigas pode inspirar novas formas de pensar sobre a agricultura sustentável”, aponta Jonathan Shik, coautor do artigo. “Embora não possamos ainda transferir os métodos de cultivo das formigas para a agricultura humana, o estudo desses sistemas pode revelar como alterações genéticas podem ajudar os agricultores a equilibrar o rendimento e a estabilidade ambiental”, salienta.





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