Aranhas não caçam qualquer presa. Ao longo da sua vida, as preferências alimentares vão mudando



Embora possam causar arrepios a muitos, as aranhas estão entre os predadores mais criativos do planeta. Algumas espécies tecem teias com padrões geométricos intricados, outras escavam alçapões dos quais saltam para apanhar as presas e ainda há aquelas que, como pescadores humanos, agarram nas teias com as suas patas e lançam-nas sobre a próxima refeição.

Mas não são só as técnicas de caça que são muito diversificadas no mundo dos aracnídeos. A escolha das presas também é altamente variável.

Uma investigação liderada pela Cardiff University e pelo centro Rothamsted Research (Reino Unido) revela que as aranhas escolhem as suas presas com base nas suas próprias necessidade nutricionais, que podem variar consoante a espécie, o sexo e a idade do próprio indivíduo. Por outras palavras, nem tudo o que vem à teia é comida.

A equipa recolheu espécimes de dois grupos de aranhas – Lycosidae e Linyphiidae – numa região rural no sul do País de Gales entre abril e setembro de 2018. Em laboratório, foram feitas análises de ADN para perceber o que comem e o teor nutricional de cada presa consumida.

Os resultados mostram que as aranhas adultas tendem a consumir presas mais ricas em carboidratos e em lípidos, ao passo que as juvenis consomem maioritariamente presas mais ricas em proteínas. Estas diferenças, argumentam os cientistas, sugerem que as aranhas, ao longo da sua história evolutiva, adquiriram a capacidade para variar a sua dieta consoante o seu estádio de desenvolvimento.

“Estes resultados sugerem que as aranhas procuram, seletivamente, presas ricas em proteínas, lípidos e carboidratos”, diz Jordan P. Cuff, primeiro autor do artigo divulgado na ‘Oikos’, sendo que a proporção de ingestão de cada um desses nutrientes varia ao longo do ciclo de vida da aranha.

“Pensa-se que a regulação da dieta que as aranhas conseguem fazer é adaptativa e muitos estudos anteriores mostraram efeitos significativos no conteúdo nutritivo da dieta no crescimento, reprodução e sobrevivência das aranhas”, detalha o investigador. Dessa forma, as aranhas podem selecionar os tipos de presas que mais se adequam ao estado de desenvolvimento em que se encontram, maximizando as suas hipóteses de sobrevivência.

A equipa acredita que compreender como as aranhas se alimentam, que presas caçam e as variações das suas dietas ao longo das suas vidas, poderá ter implicações ao nível do controlo de pragas agrícolas. Manipulando a abundância das presas que as aranhas mais preferem em zonas de agricultura, talvez seja possível redirecionar a atenção predatória destes rastejantes de oito patas para os invertebrados que devoram as plantações, recrutando-os, assim, para o combate às pragas.





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