Emissões poluentes da indústria global do futebol equivalem a quase 150 milhões de barris de petróleo



O futebol é um dos desportos mais populares do mundo. Move vários milhões de pessoas em todos os cantos da Terra, atravessando povos e culturas. Contudo, os seus impactos ambientais podem estar a ser subvalorizados ou mesmo ignorados.

Um relatório que juntou especialistas das organizações New Weather Institute e Scientists for Global Responsability, divulgado esta segunda-feira, revela que as emissões poluentes da indústria global do futebol são quase tão grandes quanto as de um país como a Áustria, ou seja, entre 64 e 66 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano. Por outras palavras, as emissões de gases com efeito de estufa geradas pelo “desporto rei” são equiparáveis às emissões libertadas pela combustão de 150 milhões de barris de petróleo.

No que consideram ser a primeira análise de âmbito global das emissões de carbono do futebol, os autores revelam que as principais fontes de poluição do futebol estão nos acordos de patrocínio feitos com empresas com altos níveis de poluição, nas deslocações (de carro ou avião) internas e internacionais para assistir a jogos e na construção dos estádios.

Mais do que apontar um dedo acusatório, o intuito do relatório, asseguram os cientistas, é ajudar a indústria do futebol a compreender “a sua crescente contribuição para as alterações climática” de forma a poder mitigá-la.

Salientando que os impactos ambientais do futebol têm sido altamente subvalorizados e que os esforços para atenuá-los estão ainda a dar os primeiros passos, sobretudo focados na redução de emissões operacionais, os autores argumentam que a expansão dos campeonatos internacionais, o número de jogos e a promoção de empresas poluentes via patrocínios estão a impedir uma efetiva ação climática no universo futebolístico.

A análise permitiu também perceber que o futebol feminino tem uma pegada carbónica muito inferior ao masculino, mas os autores avisam que isso poderá, em breve, mudar à medida que o desporto feminino ganha cada vez mais destaque.

O relatório critica ainda a falta de consciencialização por parte das lideranças futebolísticas sobre os impactos do desporto no planeta, recordando o acordo de patrocínio firmado em abril de 2024 entre a FIFA e a petrolífera saudita Aramco, a maior do mundo, avaliado em 100 milhões de dólares por ano e, por isso, considerado o acordo de patrocínio mais lucrativo até à data.

Embora a FIFA e a UEFA integrem já a estrutura da convenção climática das Nações Unidas (UNFCCC) para alinhar o desporto com os objetivos da ação climática global, comprometendo-se, assim, a redução as suas emissões em metade até 2030, os autores dizem que tudo indica que isso não acontecerá tão cedo nem à escala necessária para ter um impacto positivo efetivo.

“Apesar de apelar as grandes massas e de ter uma audiência global, o futebol está a ter dificuldades em controlar o seu verdadeiro impacto ambiental”, diz Suart Parkinson, principal autor do relatório, devido, sobretudo, à falta de dados e à exclusão de certos indicadores-chave das análises de impacto, como os patrocínios de empresas poluentes.

“Esta investigação reúne provas irrefutáveis que apontam o futebol como um dos grandes poluidores, e a sua contribuição para as alterações climáticas está a crescer”, acrescenta, lamentando que não há sinais de que as lideranças futebolísticas estejam preparadas “para avaliar adequadamente o problema da poluição da modalidade, muito menos para tomar as medidas necessárias para reduzi-lo”.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...