Península Arábica era uma savana com vegetação num passado recente
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Um novo estudo que reconstrói chuvas extremas na Península Arábica descobriu que a precipitação na região era cinco vezes mais intensa há apenas 400 anos.
As conclusões do estudo, liderado pela Escola Rosenstiel de Ciências Marinhas, Atmosféricas e da Terra da Universidade de Miami, sugerem que os últimos 2000 anos foram muito mais húmidos e que o clima da região já se assemelhava a uma savana com vegetação onde leões, leopardos e lobos vagueavam, em oposição ao deserto hiperárido atual.
“À medida que grandes projetos de desenvolvimento como o NEOM na Arábia Saudita continuam a remodelar o cenário, estas descobertas sublinham a necessidade crítica de melhorar a resiliência climática e a preparação para desastres para enfrentar a crescente ameaça de eventos climáticos extremos na região”, frisou o autor sénior do estudo, Sam Purkis, professor e presidente do Departamento de Geociências Marinhas da Escola Rosenstiel da Universidade de Miami, em comunicado.
Com recurso a um veículo operado remotamente (ROV) a mais de 1,5 quilómetros de profundidade, implantado a partir do navio de investigação OceanXplorer, a equipa de investigação extraiu núcleos de sedimentos de uma piscina de salmoura em águas profundas no Golfo de Aqaba, uma extensão do norte do Mar Vermelho.
A química da salmoura preserva camadas de sedimentos intactas, fornecendo um registo único e altamente preciso das tendências de precipitação do Holocénico tardio.
Os cientistas descobriram que os últimos 2000 anos na Península Arábica foram muito mais chuvosos, uma vez que a região já foi uma savana com vegetação e, há cerca de 200 anos, a quantidade de chuvas era duas vezes maior do que é atualmente.
“Este é um registo essencial para completar a história do clima do Médio Oriente. O que nos diz é que o clima, tanto médio como extremo, pode mudar drasticamente nesta região, e o pressuposto de estabilidade climática a longo prazo no desenvolvimento futuro não é bom”, apontou Amy Clement, professora do Departamento de Ciências Atmosféricas da Escola Rosenstiel da Universidade de Miami.
O Médio Oriente é considerado um ponto crítico climático, com crescentes inundações repentinas desencadeadas por chuvas torrenciais de inverno, intercaladas com secas severas, causando o caos generalizado e desastres humanitários na Península Arábica.
A variabilidade da precipitação do Holocénico tardio realça a necessidade de uma melhor preparação para as cheias repentinas e secas e de compreender as tendências hidroclimáticas futuras à medida que o Médio Oriente se urbaniza rapidamente.
As inundações catastróficas na Península Arábica no Inverno de 2024 sublinham a urgência de estudar a frequência e os fatores que provocam estes eventos climáticos extremos.