Como os chocos hipnotizam caranguejos antes de os caçarem



Os chocos são grandes e criativos caçadores de emboscada dos oceanos. A sua pele única permite-lhes camuflarem-se e praticamente desaparecerem de vista, conseguem imitar outros animais para se aproximarem das presas sem serem detetados e até criar “espetáculos de luzes” para confundi-las.

Uma recente investigação liderada pela Universidade de Bristol (Reino Unido) descobriu agora uma técnica de caça que ainda não tinha sido documentada. Quando se aproximam das suas presas, os chocos da espécie Sepia latimanus tornam a sua cabeça branca, esticam seis dos seus oito braços para a frente formando um cone e os restantes dois abrem-nos para os lados.

Mas o traço mais curioso deste comportamento de aproximação à presa é que os chocos, através das células que controlam a cor da sua pele (cromatóforos), criam a ilusão de que riscas pretas passam desde a cabeça até à ponta dos tentáculos, em sequência rítmica, e o espetáculo só pára depois de o predador capturar a presa.

Neste vídeo, um choco aproxima-se de um caranguejo usando a técnica das listas dinâmicas para confundi-lo. Fonte: Matteo Santon et al., 2025

 

Os investigadores, num artigo publicado na revista ‘Science Advances’, sugerem que essa técnica, de alguma forma, hipnotiza a presa e ajuda o choco a tornar os seus movimentos mais difíceis de perceber.

Muitos animais que recorrem à camuflagem para evitarem ser comidos tendem a permanecer muito quietos, pois qualquer movimento pode denunciar a sua presença a um predador. No caso destes chocos, os cientistas consideram que é um caso singular, uma vez que o cefalópode consegue manter a camuflagem enquanto se aproxima da presa.

“A maioria dos chocos recorre à furtividade para se aproximar sorrateiramente das presas”, explica, em nota, Martin How, coautor do estudo, mas por terem uma pele que lhes permite mudar de cor rapidamente, “estes animais notáveis têm um leque de opções mais alargado do que a maioria quando se trata de se camuflarem enquanto estão em movimento”.

Os resultados da investigação sugerem que a camuflagem dinâmica do choco confunde os caranguejos, cujo sistema visual não consegue processar devidamente o que está a acontecer, dando ao predador a oportunidade de se aproximar sem ser detetado.

Para Matteo Santon, primeiro autor do artigo, observar estes chocos a caçarem “é como ficar hipnotizado pelos truques de um ilusionista habilidoso”.






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