Portos sem barreiras: a inovação colaborativa ao serviço das cidades



Por Tiago Marques, Senior Innovation Consultant na Beta-i

Durante muitos anos, os portos foram pensados exclusivamente como infraestruturas logísticas e funcionais, fechadas e isoladas da vida urbana que os rodeia. Atualmente, esse paradigma está a mudar. Integrar o porto na cidade deixou de ser apenas uma ambição estratégica e tornou-se numa necessidade urgente para transformar o espaço urbano e criar valor para as comunidades.

Na União Europeia, onde quase metade da população vive a menos de 50 quilómetros do mar, repensar a função urbana dos portos é fundamental. A proximidade entre estas estruturas e os centros urbanos exige uma nova lógica de planeamento: mais acessível, mais sustentável e mais centrada nas pessoas. Deixou de ser possível que os portos sejam apenas zonas de transição esquecidas, tornando-se sim em zonas de transformação ativa.

Tudo isto implica uma mudança profunda de perspetiva: o porto deixa de ser apenas da esfera industrial e passa a ser parte integrante da cidade. Isso traduz-se em medidas concretas como a eletrificação dos cais para reduzir as emissões locais, a criação de corredores logísticos verdes, a reabilitação de frentes ribeirinhas e o uso de tecnologias limpas que respeitem o meio ambiente e o tecido urbano.

Um exemplo notável desta nova abordagem é startup Windcredible, responsável pela instalação da primeira turbina eólica urbana num porto português, um projeto que alia eficiência energética, integração paisagística e compromisso ambiental. Discreta e silenciosa, esta turbina consegue suprir até 60% das necessidades energéticas de uma habitação média, provando que é possível produzir energia limpa dentro da cidade, sem conflito com o espaço urbano.

Ao nível internacional, a startup dinamarquesa Portchain tem revolucionado a gestão portuária com a integração de sistemas digitais baseados em inteligência artificial. Em 2023, a adoção destas soluções já evitou a emissão de mais de 194 000 toneladas métricas de CO₂, o equivalente à remoção de mais de 46.000 carros a gasolina das estradas durante um ano.

Mais do que intervenções pontuais, estas iniciativas representam uma visão, onde o porto é um espaço de convivência, de produção limpa e de acesso público, sendo percecionado como um lugar onde o desenvolvimento económico e a qualidade de vida urbana caminham lado a lado.

O desafio, agora, é passar da exceção à norma. Multiplicar estes exemplos, escalar o que funciona e garantir que as inovações urbana e ambiental não ficam presas em zonas piloto. Está nas nossas mãos transformar os portos em pontos vivos de encontro entre cidade e mar. Essa transformação começa com coragem para repensar o espaço e com vontade política e colaborativa para o reinventar.






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