Quilómetros verdes: a viagem colectiva da Rede Expressos rumo a uma mobilidade mais leve



Quando a Rede Expressos foi distinguida, no início deste ano, com o Prémio Escolha Sustentável 2025, a reacção dentro da casa foi descrita como “um catalisador”. O reconhecimento não alterou instantaneamente os números da operação, mas deu-lhes nitidez: a transportadora passou a ordenar prioridades com outra confiança e, sobretudo, encontrou argumentos adicionais para convencer os seus operadores a acelerar investimentos. Da nova fase nasceu a decisão-recorde de aplicar 15 milhões de euros na compra de 48 autocarros Euro 6 equipados com sistemas AdBlue, Wi-Fi 5G e bancos de maior conforto; a chegada destas viaturas, programada para este ano, permitirá descer a idade média da frota de seis para menos de cinco anos e reforçar a ambição de cortar emissões enquanto melhora a experiência a bordo.

A sustentabilidade, porém, não se mede apenas em motores mais limpos. Entre as dezenas de indicadores que a empresa vigia, dois ganharam estatuto de farol. O primeiro é precisamente essa idade média da frota, porque cada ano a menos significa melhores consumos, menores partículas e maior fiabilidade ambiental. O segundo é a taxa de digitalização da bilhética: no primeiro semestre de 2024 as vendas via site e app cresceram 34 % relativamente ao período homólogo, suprimindo milhões de talões impressos e reduzindo a dependência de terminais físicos. Ao mesmo tempo, a digitalização abre caminho a promoções dinâmicas que atraem passageiros do automóvel individual, multiplicando o impacto ambiental positivo da rede.

Os frutos desta estratégia já são visíveis. Em 2023 a Rede Expressos transportou 11 milhões de passageiros — uma subida de 22 % face ao ano anterior — e percorreu 81 milhões de quilómetros, mostrando que é possível crescer ao mesmo tempo que se refina a malha de horários para eliminar trajectos vazios.

O aumento da procura valida uma convicção antiga da empresa: cada assento ocupado num expresso representa menos carros na estrada e, em média, uma redução de cerca de 70 % nas emissões por quilómetro por passageiro.

A conquista do prémio coincidiu, ainda, com um impulso à renovação dos serviços de longo curso. Cinco ligações diárias Lisboa–Porto foram convertidas em “prime”, com snack incluído, ecrãs individuais e assentos em poltrona, garantindo que o salto para opções mais verdes não sacrifica conforto nem velocidade — o percurso demora cerca de três horas e um quarto, sem paragens intermédias, e custando a partir de dez euros.

Apesar do entusiasmo, a administração reconhece que a transição tem desafios complexos. Equilibrar o volume de investimento com a sustentabilidade económica dos serviços é um deles; alinhar vários concessionários, cada qual com realidades financeiras e tecnológicas próprias, é outro. Acresce a pressão de novas regras ambientais e a concorrência de operadores ferroviários e plataformas internacionais de baixo custo. Para enfrentar estes obstáculos, a Rede Expressos tem vindo a introduzir mecanismos internos que penalizam rotas asseguradas com viaturas fora dos parâmetros de idade definidos, ajustando o preço adjudicado por quilómetro e estimulando uma modernização rápida em todo o ecossistema.

No horizonte de 2030, a empresa pretende iniciar a incorporação de autocarros de zero ou baixo carbono. O processo exige diálogo intenso com fabricantes, utilities e autoridades, porque não basta comprar veículos: é preciso instalar carregadores de alta potência — entre 300 kW e 1 MW —, reforçar infra-estruturas eléctricas e redesenhar terminais para assegurar que os tempos de carregamento não colidem com as frequências exigidas pelo mercado. A gestão inteligente dessa energia, em particular nas horas de ponta, torna-se crítica para evitar saturar as redes locais e para manter os horários intactos. Embora admita incertezas técnicas e financeiras, a transportadora defende que a transição é não apenas inevitável, mas benéfica, desde que conduzida com realismo e garantias de continuidade operacional.

Expansão e sustentabilidade caminham, assim, de braço dado. A rede já ultrapassa as 350 ligações e a estratégia para os próximos anos inclui reforçar destinos no Norte e criar mais rotas directas para os principais aeroportos, encurtando tempos de espera e oferecendo alternativas competitivas ao automóvel. Cada nova rota é avaliada em termos de potencial para atrair utilizadores do transporte individual e, por extensão, para reduzir emissões globais. Nesse sentido, o marketing tem um papel pedagógico: o passageiro é lembrado de que, ao optar pelo expresso, contribui para um modelo de mobilidade mais equilibrado e responsável.

A medição será cada vez mais rigorosa. A Rede Expressos prepara-se para adoptar auditorias externas alinhadas com a ISO 14064 (quantificação de emissões) e padrões europeus que avaliam performance ambiental de frotas. A ideia é subjectar indicadores de idade de veículos, consumo de combustível, quilómetros vazios evitados e percentagem de vendas digitais a escrutínio independente, reforçando a credibilidade do relato não-financeiro já em preparação.

Visto à distância, o selo de “Escolha Sustentável” não aparece no letreiro frontal dos autocarros, mas manifesta-se em cada detalhe da operação: numa curva de rota encurtada pelo algoritmo, num talão em papel que deixou de existir, numa ligação directa que concorre com o carro, num motor que expele menos óxidos de azoto e num plano que antevê baterias de longo alcance alimentadas por carregadores rápidos. A sustentabilidade, aqui, não é meta abstracta: é o próprio combustível que faz avançar os 42 000 quilómetros diários da maior rede rodoviária portuguesa. O troféu conquistado este ano colocou holofotes sobre essa viagem; agora, cabe à Rede Expressos provar que consegue chegar ao destino — um sistema de mobilidade verdadeiramente leve para o planeta — sem perder velocidade nem passageiros pelo caminho.






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