CPLP deve reforçar cooperação na área da energia

A necessidade de reforço da cooperação na área da energia entre os Estados-membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa foi salientada no final da III Reunião de ministros da Energia da CPLP, que decorreu ontem em Lisboa.
Em declarações à Lusa, no final do encontro, a ministra do Ambiente e Energia de Portugal, Maria da Graça Carvalho, salientou que a reunião de hoje com os seus homólogos da CPLP serviu para frisar que é essencial “reforçar a cooperação na área da energia”, salientando que esta “não era, tradicionalmente, uma das áreas de cooperação dentro da comunidade”.
O secretário executivo da CPLP, Zacarias da Costa, durante a reunião, referiu precisamente que este setor deve ser, “cada vez mais, um dos pilares da cooperação” dentro da comunidade.
Para a ministra portuguesa, que relaciona o tema da energia com o clima, “a cooperação tem a ver com melhores práticas e a ajuda entre os vários países, de modo a que haja uma descarbonização baseada nas boas soluções e uma transição justa”, sendo que “há países que estão mais avançados do que outros nessa transição”.
Maria da Graça Carvalho salientou que, mesmo países como Angola, Moçambique e Timor-Leste, que têm hidrocarbonetos, estão dispostos a seguir um caminho de energia limpa.
“Todos eles [os países da CPLP] têm como objetivo a descarbonização, ter mais energias renováveis, ter uma maior descentralização da energia, ter a eletrificação a cobrir todo o seu território. Mesmo aqueles que têm potencial e exploram recursos fósseis [referindo-se a Angola e Moçambique], todos eles estiveram alinhados na descarbonização”, salientou.
Segundo a ministra, outro ponto discutido na reunião foi tornar a CPLP num bloco reconhecido em fóruns internacionais, visto existir a vantagem de vários Estados-membros pertencerem a outros blocos, como a União Europeia, a União Africana e os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), pelo que a comunidade lusófona deve “discutir e coordenar” as suas posições.
A ministra deu como exemplo uma possível atuação na COP30, que se vai realizar no Brasil este ano.
“Por exemplo, na área do clima e com a COP30, esta cooperação pode ser muito programada, preparada para, quando chegarmos, nas várias negociações, consigamos levar para cada um dos nossos grupos [económicos e políticos] já a informação do que é que se está a passar nos outros grupos e coordenar, assim, com o interesse dos outros grupos. Portanto, tem muita vantagem esta coordenação”, referiu.
Outras questões discutidas na reunião foram a procura, em conjunto, de financiamento, principalmente para a Energia Verde e a possibilidade de uma maior cooperação, mesmo de forma bilateral, nesta área.
“Foi muito apreciada, na reunião, a nossa conversão da dívida com Cabo Verde, portanto o facto de estar a correr muito bem poderá ser um exemplo que se pode replicar entre outros pares de países”, indicou.
Foi ainda discutida a “equidade de géneros”, nomeadamente a necessidade de existirem mais mulheres no setor.
A pobreza energética, que se relaciona também com o ponto anterior, foi outro tema em debate, disse.
“A maior parte das pessoas que sofrem as maiores consequências da pobreza energética são mulheres, principalmente nos países mais pobres, em que o ato de cozinhar é feito com lenha, de uma forma que tem muitas emissões muito prejudiciais à saúde. Portanto, há uma grande necessidade de se utilizar o que se chama o ‘clean cooking’, ou fogões solares, ou fogões mais limpos, para melhorar a saúde de quem cozinha, no fundo”, citou.
A ministra salientou que ficou marcada uma nova reunião com os ministros desta pasta para 2027.
Para Zacarias da Costa, “nenhum país da comunidade deve ficar para trás nesta transição” energética.
A CPLP é constituída por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.