Túneis para a vida selvagem permitem reduzir 80% das mortes de anfíbios por atropelamento

Os anfíbios, incluindo rãs, sapos e salamandras, são um dos grupos de animais mais ameaçados do planeta. Surtos de doenças, a perda de habitat e os efeitos das alterações climáticas são apenas alguns dos maiores fatores de pressão que empurram para a extinção cada vez mais espécies.
As estradas fazem também parte dessa lista, pois fragmentam os seus habitats, interrompem rotas de migração e obrigam os anfíbios a lançarem-se em travessias arriscadas e potencialmente fatais. Todos os anos, milhões de anfíbios morrem por atropelamento em todo o mundo.
Para atenuar os perigos que as estradas representam para a vida selvagem alguns países e regiões têm implementado corredores ecológicos que permitem aos animais cruzarem essas rodovias, por cima ou por baixo, evitando, assim, muitas mortes.
Focando-se nos anfíbios, investigadores da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos da América (EUA), analisaram a eficácia de duas passagens subterrâneas num troço de 1,3 quilómetros ao longo de uma estrada na cidade de Monkton, no estado do Vermont, e perceberam que essas intervenções permitem reduzir em 80,2% as mortes de anfíbios por atropelamento.
“Foi surpreendente”, confessa Matthew Marcelino, primeiro autor do artigo publicado recentemente na revista ‘Journal of Nature Conservation’, que dá conta da descoberta.
O cientista reconhece que já sabia, antes deste estudo, que as passagens subterrâneas funcionavam, “mas eu nunca pensei que fossem tão eficazes”.
Todos os anos, pela altura da primavera, grandes números de anfíbios deixam as florestas e margens de ribeiras onde vivem durante os meses mais frios do ano e lançam-se em migrações para lagos, charcos e outros tipos de zonas húmidas para se reproduzirem. Como várias espécies tendem a reproduzir-se nos mesmos locais, Brittany Mosher, coautora do estudo, diz que é frequente observar-se centenas ou até milhares de indivíduos a deslocarem-se ao mesmo tempo.
Por isso, as estradas são um obstáculo a essas deslocações e causam a morte de inúmeros anfíbios, que se movem devagar, afetando, consequentemente, o sucesso reprodutivo das populações locais e potencialmente até a sobrevivência de espécies.
Os túneis nessa estrada norte-americana foram construídos em 2015, fruto de um esforço de colaboração entre autoridades locais, cidadãos, organizações não-governamentais e cientistas, e imagens captadas por câmara aí instaladas revelaram que são usados por anfíbios e também por uma série de outros animais, como ursos, aves, linces, porcos-espinhos, guaxinins e cobras. Para os autores desta investigação, isso mostra que essas passagens subterrâneas criadas com os anfíbios em mente têm benefícios mais vastos que impactam positivamente os ecossistemas e mitigam os efeitos da fragmentação provocada pelas estradas.
“O nosso estudo fornece fortes provas de que as passagens subterrâneas para a vida selvagem funcionam”, sentencia Marcelino. “Esperamos que isto encoraje os departamentos de transportes para incluí-las em futuros planos, aquando da construção ou reparação de estradas.”