Castor-europeu de volta a Portugal após mais de 500 anos de extinção local

“Após séculos de ausência, surgiram finalmente evidências da presença do castor-europeu (Castor fiber) em território português”, anuncia a Rewilding Portugal.
Em comunicado, a organização conservacionista revela que, fruto de esforços de monitorização na zona de fronteira com Espanha, foram detetados “sinais inequívocos” da presença desse mamífero há muito desaparecido em território nacional.
Estima-se que o último avistamento de castor-europeu em Portugal date de finais do século XV, altura em que terá desaparecido totalmente, devido sobretudo à caça intensiva de que foi alvo e à destruição do seu habitat.
O possível regresso do castor deve-se, em grande medida, à recuperação das populações da espécie em Espanha ao longo das últimas duas décadas. Diz a Rewilding que, por cá, “começaram por surgir marcas de roedura em árvores e estruturas de manipulação do curso da água, típicas da atividade desta espécie”, o que permitiu às equipas que estavam no terreno colocar equipamento de fotoarmadilhagem.
Os esforços resultaram na captura de imagens de um castor-europeu jovem adulto, na área do Parque Natural do Douro Internacional, no passado mês de maio.
“Estávamos atentos a este avanço há já alguns anos, e agora é com enorme entusiasmo que confirmamos este regresso. O castor é um aliado natural no restauro da saúde dos nossos rios e zonas húmidas e tem um papel fundamental a desempenhar nos nossos ecossistemas fluviais”, aponta Pero Prata, Líder de Equipa da Rewilding Portugal.
Dizem os conservacionistas que este animal “é um verdadeiro engenheiro de ecossistemas”, com uma capacidade extraordinária para construir represas, escavar canais e alterar as margens dos rios, trazendo à paisagem “diversidade, retenção de água e vida”.
Dessa forma, a sua presença é não só benéfica para a biodiversidade, mas também para a criação e manutenção de zonas húmidas que atuam como filtros naturais da água e que atenuam os efeitos de cheias e da erosão.
“Estamos a falar de uma espécie que presta serviços ecológicos que nenhum equipamento moderno consegue replicar com a mesma eficiência e escala, sem custos e sem burocracias que acabam por nunca ser ultrapassadas. O castor melhora a qualidade da água, cria refúgios para outras espécies e ajuda-nos a combater fenómenos como a seca e os incêndios”, sublinha Pedro Prata.
Além disso, os castores possibilitam o aumento da retenção da água nos solos, o que contribui para o combate a dois fenómenos que estão a alastrar-se pelo interior do país: as secas e a desertificação.
Numa altura em que é cada vez mais reconhecida a importância do restauro dos ecossistemas para combater as três grandes crises planetárias – alterações climáticas, perda de biodiversidade e poluição –, o castor surge como um aliado de peso.
Por isso, Pedro Prata afirma que “o regresso do castor a Portugal é um símbolo de esperança e de mudança” e que “mostra que, se deixarmos espaço e tempo à natureza, ela responde”. Agora, “cabe-nos agora garantir que este regresso seja bem acolhido e protegido”, salienta.
A organização diz que há já algum tempo havia informado as entidades nacionais competentes da possibilidade do regresso do castor-europeu a Portugal, para permitir a devida preparação, a fim de “antecipar possíveis conflitos com comunidades locais, agindo de forma preventiva e não reativa e criando desde logo condições para um regresso da espécie realizado de forma preparada e assente em coexistência positiva”.
Contudo, lamenta que “até à data, esse pedido acabou por não surtir qualquer efeito, não tendo sido realizado qualquer esforço oficial nesse sentido”, apontando, ainda assim, que “ainda vamos a tempo de apoiar o seu regresso de forma planeada e em harmonia com o que já existe”.
“A chegada do castor a Portugal é um marco histórico e simbólico para a conservação da natureza no nosso país”, declara a Rewilding.
“Num contexto de crise climática e colapso da biodiversidade, é um sinal de esperança e de resiliência da vida selvagem. Mas é também um convite à ação: para proteger os habitats ribeirinhos, restaurar corredores ecológicos, e apoiar o regresso das espécies que fazem falta aos nossos ecossistemas.”