Imagens raras mostram ratazanas a caçar morcegos em voo. Cientistas alertam para riscos de conservação (vídeo)
No norte da Alemanha, uma equipa de investigadores captou imagens de um comportamento que descreve como “raro”: ratazanas-comuns (Rattus norvegicus) a caçarem morcegos em pelo voo. Dizem que é a primeira vez que tal é documentado cientificamente.
Os locais onde os vídeos foram gravados, com recurso a tecnologia de infravermelhos, são conhecidas zonas de hibernação, onde dezenas de milhares de morcegos, sobretudo morcegos-de-franja (Myotis nattereri) e morcegos-de-água (Myotis daubentonii), usam as cavernas e grutas que aí existem para passarem os meses mais frio do ano.
Os vídeos, captados numa gruta na cidade alemã de Bad Segeberg, mostram uma ratazana empoleirada numa espécie de parapeito, enquanto morcegos voam à sua volta. De repente, quando um dos morcegos se aproximada demasiado, o roedor lança as patas dianteiras sobre o mamífero alado e caça-o.
Vídeo: Ratazana-comum caça morcego-de-água no norte da Alemanha. Fonte: Gloza-Rausch et al., 2025, Global Ecology and Conservation.
Embora reconheça que as observações feitas mostram o quão “adaptáveis e hábeis” são as ratazanas, Florian Gloza-Rausch, primeiro autor do artigo que dá conta da descoberta, diz que os resultados levantam também preocupações relativas ao impacto de espécies invasoras, como é o caso da Rattus norvegicus na Alemanha, sobre a biodiversidade nativa.
Além dos registos em vídeo captados em Bad Segeberg, foram também recolhidos indícios de predação de morcegos por ratazanas na cidade de Lüneburg, onde também existem importantes locais de hibernação.
A equipa de cientistas diz que esses dois locais estão já sobre uma grande pressão devido à expansão urbana, à construção de infraestruturas, como estradas, e à poluição luminosa, tudo fatores que impactam negativamente os morcegos que procuram abrigos de inverno. Se a predação por ratazanas de vier juntar a essas ameaças, podem registar-se perdas significativas para a população de morcegos que frequenta as grutas no norte da Alemanha.
“Isto representa um desafio à conservação que deve ser encarada com seriedade”, avisam os investigadores.
As implicações do estudo vão além das espécies em causa, e tocam também na saúde de outros animais, incluindo humanos. Morcegos e ratazanas são conhecidos transmissores de patógenos que podem transpor a barreira da espécie e chegar aos humanos e outros animais selvagens.
Por isso, os cientistas propõem o “controlo direcionado de ratazanas-comuns me locais-chave de hibernação de morcegos”, pois tal, argumentam, “protegeria tanto populações vulneráveis de morcegos como reduziria os riscos de saúde pública”.
Uma forma de reduzir as populações urbanas de ratazanas é através da “gestão eficaz dos resíduos”, apontam os autores do artigo.