Madagáscar vai importar tartarugas gigantes para recriar biodiversidade milenar



Há dois milénios, milhões de tartarugas gigantes caminhavam calmamente por Madagáscar, alimentando-se de vegetação e dispersando sementes do ecossistema mais rico e único do mundo.

Quando os humanos chegaram à ilha, há 2.300 anos, as grandes populações de vertebrados foram as principais prejudicadas. Dezenas de espécies desapareceram, incluindo 17 lémures gigantes, três hipopótamos pigmeus, dois mamíferos parecidos com o aadvark, oito pássaros elefante, um crocodilo gigante e duas tartarugas gigantes.

Agora, estas tartarugas poderão ser recuperadas para a biodiversidade da ilha, um projecto que está a ser liderado pelo biólogo especialista em conservação Miguel Pedrono e que implica a importação de um parente muito próximo destas espécies.

Segundo Pedrono, que está a trabalhar junto do centro de pesquisa agrícola francês CIRAD, será feita a importação de algumas centenas de tartarugas, que irão suprir as falhas ecológicas deixadas pelas espécies extintas.

“Esta não é uma substituição ecológica por uma espécie análoga, algo que é feito noutras ilhas do Oceano Índico. Esta é uma verdadeira reintrodução – a primeira de uma espécie de megafauna aqui”, explicou Pedrono. “Isto abrirá fantásticas perspectivas para a conservação em Madagáscar”.

Utilizando fósseis das duas espécies de tartarugas gigantes agora extintas, Pedrono localizou um grupo muito similar de tartarugas a viver perto do atol de Aldabra. Estudos preliminares de AND provam que a espécie não só é fisicamente igual como tem semelhanças genéticas.

Na verdade, foram os antepassados destas tartarugas do atol de Aldabra que fizeram a viagem de 400 quilómetros – há 100 mil anos – para Madagáscar.

As tartarugas são tão semelhantes que é provável que este buraco deixado no ecossistema seja finalmente fechado. Hoje, Madagáscar não tem outro grande animal capaz de espalhar sementes grandes – como as da árvore baobab -, pelo que esta é uma notícia muito esperada pela comunidade local.

Numa primeira fase, as 300 tartarugas irão ocupar uma reserva natural no oeste da ilha, onde viverão durante cinco anos. Aí, e se tudo correr dentro do previsto, os cientistas terão a oportunidade de monitorizar os seus hábitos alimentares e dispersá-las pelas ilhas.





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