A memória da “aldeia fantasma” francesa dizimada pelos nazis (com FOTOS)



O presidente da Alemanha tornou-se recentemente no primeiro líder do país a visitar a “aldeia fantasma” francesa onde soldados nazis assassinaram 642 civis, incluindo 205 crianças. No dia 10 de Junho de 1944, os habitantes de Oradour-sur-Glane, perto de Limoges, foram massacrados e todos os edifícios do lugar foram destruídos.

Num sinal de unidade do pós-guerra, Joachim Gauck disse ter sentido “um misto de gratidão e humildade” ao visitar o local acompanhado do presidente francês, Francois Hollande. Gauck acrescentou: “A Alemanha que eu tenho a honra de representar é uma Alemanha diferente da que assombra memórias”.

Hollande e Gauck fizeram a visita acompanhados por dois dos três únicos sobreviventes do massacre de Oradour – Robert Hebras e Jean-Marcel Darthout. Hebras, hoje com 88 anos, tinha 19 anos na época e conseguiu escapar ao esconder-se debaixo dos cadáveres de outros atingidos por metralhadoras.

Hoje, Oradour existe como um enorme memorial ao ar livre – um espaço parado no tempo, onde as casas queimadas permanecem exactamente como no dia em que foram incendiadas e onde até mesmo o carro do mayor da cidade jaz enferrujado na rua principal.

A memória dos lugares

Este é um exemplo de como uma aldeia, ou uma cidade, é mais do que um aglomerado de pessoas: é um espaço profundamente sensível, marcado por uma memória interna de longo alcance. Acontecimentos dramáticos como o registado em Oradour – que nunca veio a ser reconstruída – podem ditar o fim definitivo das dinâmicas protagonizadas por qualquer comunidade e condenar ao abandono perpétuo uma região.

A chacina de uma população é sem dúvida o marco mais atroz que pode ficar na memória de um lugar, mas a recuperação mostra-se um processo doloroso também em outros cenários marcantes, como catástrofes naturais – os mártires são difíceis de esquecer.

Muito depois das pessoas e dos seus tectos, permanecem nos lugares as histórias, os sentimentos e os marcos que os escreveram – para o bom e para o mau. É assim que, longe de tragédias sanguinárias, também as aldeias desertificadas do nosso país se mantêm espaços carregados de lembranças e acontecimentos, memórias físicas do nosso passado.

Questionamo-nos se poderão essas, algum dia, recuperar do choque das migrações e suas consequências – da falta de apostas em si e do seu esquecimento. Sem a aura de jazigo e violência profunda, também contamos com as nossas próprias “aldeias fantasma”. Estarão afinal alguns lugares condenados a serem, após o choque, apenas ruínas?





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