Roménia enfrenta sério problema de saída de médicos. E Portugal?



A Roménia é o segundo país mais pobre da Europa e todos os anos milhares de romenos deixam o país em busca de melhores condições de vida em outros países europeus. Mesmo os que têm emprego, como os médicos, começaram a deixar a Roménia e procuram países onde os salários são mais atractivos.

Só nos últimos dois anos, cerca de 30% dos médicos residentes deixaram a Roménia. Em 2011, existiam cerca de 20 mil profissionais. No final de 2013 existam 14 mil. Os seis mil médicos em falta deixaram o país. Face a esta elevada fuga de cérebros, o sistema de saúde romeno enfrenta agora um sério problema: além das zonas rurais, onde os médicos já eram escassos, também nas cidades começam a escassear estes profissionais.

Os principais destinos dos médicos romenos são a Alemanha, França e, mais recentemente, o Reino Unido, com o término das restrições que impedia os cidadãos búlgaros e romenos de residir e trabalhar em território britânico. Nestes três países o salário médio mensal de um médico que trabalhe por turnos pode ascender a €3000. Na Roménia não excede os €350 – recentemente o salário foi aumentado de €200 para €350 euros, de acordo com o Financial Times.

Além dos salários mais altos, estes países fornecem aos médicos romenos e às suas famílias melhores condições de vida e de trabalho. Com o levantamento das restrições à entrada de romenos no Reino Unido, as autoridades romenas temem que a fuga destes profissionais qualificados aumente. Porém, até à data, ainda não se observou uma fuga em massa destes profissionais ou de cidadãos romenos para o Reino Unido.

Apesar de irem reforçar os sistemas de saúde dos países que os acolhem, na maioria dos casos os médicos romenos são encarados com desconfiança, quer pelos seus pares quer pelos doentes que tratam. O estigma de que os cidadãos de leste são menos qualificados, incluindo os médicos, continua bastante presente na mentalidade dos cidadãos da europa central e ocidental. E no Reino Unido o estigma é ainda maior.

No entanto, os médicos romenos vêem a situação de outro ponto de vista: “Somos nós que estamos a ser prejudicados e não os britânicos”, queixa-se Florin Chirculescu, um médico romeno que ainda exerce na Roménia. “Os britânicos queixam-se de que roubamos os benefícios deles. Estão assustados com a possibilidade de que possamos abusar do Sistema Nacional de Saúde deles. É irónico, uma vez que o sistema funciona graças aos milhares de médicos romenos que lá trabalham”, refere o médico romeno citado pelo jornal britânico.

Também o Governo encara a situação do mesmo ponto de vista que este médico. “O Reino Unido deveria agradecer em vez de afirmar que os romenos vão para lá só por causa dos benefícios”, assevera a ministra romena do Trabalho, Mariana Campeanu.

As autoridades romenas estimam que a fuga de médicos tenha custado na última década cerca de €3 mil milhões, que corresponde ao valor investido na formação destes profissionais.

Médicos portugueses também procuram melhores condições de trabalho

Tal como os colegas romenos, também os jovens médicos portugueses começam a optar por deixar o país e procurar melhores condições de trabalho e salariais. Em Portugal, o salário de um médico recém-formado oscila entre os €1.100 e €1.200 e lá fora existem oportunidades bastante mais aliciantes.

O Brasil é exemplo disso. Com uma elevada escassez de médicos, o país lusófono lançou um programa para cativar médicos de outros países. Com a vantagem da língua ser a mesma e com um ordenado mensal médio de €3000 mais ajudas de custo, já foram mais de mil os médicos portugueses que rumaram ao Brasil. “Há médicos a mais a sair das universidades e começa a não haver vaga para fazerem especialização nos hospitais”, afirmou António Marques Pinto, da Associação de Jovens Médicos, ao Sol.

Porém, o excedente de médicos que sai das universidades não é visível aos olhos da população portuguesa, nomeadamente do interior do país onde há falta de médicos.

Mas, se os nacionais deixam o país em busca de salários mais atractivos há médicos que procuram Portugal para exercer. Segundo o “Estudo de Evolução Prospectiva de Médicos no Sistema Nacional de Saúde”, elaborado pela Universidade de Coimbra para a Ordem dos Médicos, 6,8% dos médicos com autorização para exercer em Portugal eram estrangeiros. A maior percentagem, 2,5% é de médicos espanhóis. Os profissionais dos PALOP contabilizam 1,2% dos profissionais e os do Brasil 0,8%. Cerca de 2,3% dos médicos a exercer no país são oriundos de outros países.

Ainda que Portugal continue a ser procurado por médicos de outras nacionalidades, a percentagem caiu entre 2009 e 2011.





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