Madagáscar: artesanato por dá cá aquela palha (com FOTOS)



“PALHA E TIRAS DE BAMBU, OU A MADEIRA LEVE DE PEQUENAS ÁRVORES são os materiais mais usados para fabricar objectos do dia-a-dia em Madagáscar: diferentes chapéus de palha, de acordo com a tribo, alcofas para ir às compras, sacos e bandejas para limpar e transportar o arroz, esteiras para o chão … mas também vassouras, caixas (fabulosos, os tupperwares malgaxes!), e ainda brinquedos e objetos decorativos – tudo feito à mão, por vezes em alegre convivência com as cores berrantes dos plásticos chineses que já chegam a alguns sítios.

O trabalho de palha é especialmente visível nos mercados de rua, onde podemos, por vezes, assistir ao fabrico dos objetos e comprá-los diretamente ao artista. Mas o diálogo entre quem está encantado por ver a arte e a peça fabricada, e quem a faz quase com vergonha, é praticamente impossível.

Em Madagáscar, o artista ainda acredita que está a mostrar a sua pobreza. Só nas zonas mais expostas ao turismo é que começa a existir o conceito de artesanato como arte; aqui, nas aldeias por onde vou passando entre Fort Dauphin e Tuléar, faz à mão quem não pode comprar mais moderno e vistoso. Num material mais colorido e durável do que a madeira ou a palha. Esta é mais uma ponta do icebergue gigantesco que divide o mundo em dois – o dos “ricos” e o dos “pobres”. E os “pobres”, decididamente, não acreditam que o que fazem tem valor. Tudo o que é de fabrico tradicional lhes parece ter o selo da pobreza e da sobrevivência.

E no entanto estas são peças únicas e ancestrais. O trabalho é bom, sólido e criativo, sem ter excesso de detalhe. As tampas encaixam, os tapetes são macios, os chapéus têm vários tamanhos, como os que são feitos por máquinas. Os sacos têm pequenos detalhes coloridos, às vezes feitos com guitas. As colheres de pau têm riscas que as alongam, as figuras de vacas e humanos têm humor. E as vassouras, francamente, encantariam a mais exigente das bruxas!

Arranco alguns sorrisos quando compro várias colheres de pau e uma caixa, a uma família que as fabrica ali mesmo, no mercado de Tsihombé. Fosse pelo dinheiro que faz falta, ou pela apreciação que desesperadamente tentei comunicar. Em casa posso agora servir o meu vary de coco com uma colher genuína – e a não menos genuína sensação de testemunhar os últimos anos de uma arte rejeitada…”

Jornalista de viagem, Ana Isabel Mineiro já publicou em revistas portuguesas como a Grande Reportagem, Volta ao Mundo e Rotas & Destinos, e espanholas, como a Descubrir e a Altair. Neste momento dedica-se com igual interesse às viagens e à comida vegetariana, publicando regularmente as descobertas e curiosidades no site Comedores de Paisagem. É leitora do Green Savers e escreve regularmente aqui.

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