Ivone Silva: “O Clube de Produtores Continente é responsável por 12.800 empregos”



Numa extensa entrevista, a presidente do Clube de Produtores Continente (CPC) descodifica as novas tendência de alimentação dos portugueses, o que está por trás de eventos como o Mercado de Sabores e de que forma o CPC é um projecto completo de economia verde.

Ivone Silva revela ainda os mais recentes números ligados ao CPC e explica a estratégia para chegar a cada vez mais produtos portugueses – alimentares ou não.

A última edição do Mercado de Sabores foi dedicada à “street food”. O que está por trás desta decisão?

A “street food” está na moda: é económica, deliciosa e muito prática e até já existem quiosques de rua e roulottes considerados os melhores sítios para comer em muitas cidades do mundo. Portugal não é excepção e as ruas das cidades começam a ver-se preenchidas com pequenas bancas, quiosques e roulottes que oferecem uma grande diversidade de iguarias e petiscos tipicamente portugueses. O Mercado de Sabores escolheu a “street food” para se inspirar para a quinta edição e desafiou os chefs Justa Nobre, Henrique Sá Pessoa, Kiko Martins, Luís Baena e Hélio Loureiro a criar receitas inovadoras para os portugueses. Quem visitou o Mercado de Sabores teve a oportunidade de poder encontrar desde hambúrgueres de frango das ilhas a fish and chips à moda portuguesa, tudo produzido com os melhores ingredientes nacionais.

Em Março a Câmara Municipal de Lisboa autorizou pela primeira vez a comercialização de cinco marcas de street food. À medida que outras câmaras seguem este caminho, estará aqui uma oportunidade para o Clube de Produtores chegar de forma ainda mais direta aos consumidores?

O Continente está sempre atento a novos desafios e boas oportunidades que possam contribuir para o bem-estar dos portugueses, pelo que o futuro o dirá.

Quantos fornecedores portugueses tem o Clube de Produtores Continente e qual o valor já movimentado nas compras? Qual a percentagem de produtores portugueses no total de fornecedores?

Actualmente o Clube de Produtores Continente reúne 267 membros que correspondem a 4.000 produtores individuais e a cerca de 12.800 mil postos de trabalho, distribuídos de Norte a Sul do país, Açores e Madeira.

Ao longo dos anos, o Continente tem vindo a reforçar a percentagem de compras aos produtores portugueses, para dinamizar a produção nacional contribuindo assim para o desenvolvimento de uma indústria agro-alimentar competitiva e geradora de valor para o País. De resto, esta união ao mundo agrícola nacional cria emprego, fomenta o desenvolvimento regional e potencia projetos ambiciosos, inovadores e de indiscutível valia económica e social do nosso país.

Desde 1998, o CPC já comprou mais de 1 milhão de toneladas à produção nacional, que ultrapassam os €1000 milhões. No ano de 2013, os produtores nacionais de produtos perecíveis beneficiaram de cerca 76% do total das compras realizadas e o volume total de compras a produtores nacionais na área dos perecíveis ascendeu a €670 milhões.

Nos primeiros três meses de 2014, o Continente reforçou a sua aposta na produção nacional com o volume total de compras a produtores nacionais na área dos perecíveis a aumentar 2% para €154 milhões. Face a esta evolução, o CPC foi responsável por compras superiores a €57 milhões.

Esta união ao mundo agrícola nacional cria emprego, fomenta o desenvolvimento regional e potencia projetos ambiciosos, inovadores e de indiscutível valia económica e social do nosso país.

Como têm reagido os produtores portugueses à crise? E que diferenças tem notado o Clube dos Produtores, nesta fase crítica, em relação aos desafios e principais preocupações dos produtores portugueses?

No Continente actuamos de acordo com valores que definimos como essenciais para o desenvolvimento da nossa actividade e a relação comercial que desenvolvemos com os nossos produtores é profissional, sólida e transparente, assentando em princípios de ética e confiança. Criámos em 1998 o Clube de Produtores Continente (CPC) que assenta, precisamente, nesta relação de parceria com os nossos produtores e cujo principal objectivo é promover a produção agro-pecuária portuguesa e os produtos nacionais. As nossas negociações comerciais têm como objetivo promover o consumo de produtos nacionais, em particular neste período menos favorável que o país atravessa. As parcerias são sempre desenvolvidas com os produtores para promover o consumo destes produtos que, ao mesmo tempo, ajudam a dinamizar a economia nacional. Todo o processo de negociação com os nossos produtores é assente, desde o primeiro momento, nos princípios de transparência, ética e confiança. Palavras como “pressionados” e “retaliações” não fazem parte da atitude e comportamento de parceria que desenvolvemos.  

De referir ainda que fomos reconhecidos pelos nossos principais fornecedores da área alimentar como o Melhor Retalhista Nacional e pelo Ethisphere Institute como uma das Empresas Mais Éticas do Mundo. Neste último prémio fomos distinguidos mundialmente, pela implementação de práticas de negócio transparentes e de iniciativas com benefício para a comunidade, elevando a fasquia de padrões éticos junto de todos os seus stakeholders. É a primeira vez que uma empresa portuguesa é galardoada com esta distinção.

Por tudo isto, consideramos extremamente positiva a relação que temos vindo a desenvolver com os nossos produtores, numa partilha de conhecimento e de sinergias, e os números reforçam, de forma inequívoca, esta parceria uma vez que em 1998, quando o CPC arrancou, tínhamos um total de 90 produtores e actualmente são 4.000 produtores individuais. De realçar também os sete novos membros que entraram no CPC já este ano, de áreas tão diversas como Frutas&Legumes, Charcutaria, Take away e Vinhos.

Quais as áreas que têm um maior peso de produtores nacionais?

O peso da produção nacional nas nossas lojas é variável nos diferentes segmentos, mas orgulhamo-nos de afirmar que no total cerca de 65% dos produtos de marca própria são produzidos em Portugal. Produtos de marca Continente como o arroz carolino, o atum em lata, as farinhas, batatas fritas, o azeite, os ovos e o sal são 100% produzidos em Portugal.

Ao nível dos produtos perecíveis – frescos relativos ao primeiro trimestre de 2013 – cerca de 84,5% são produtos portugueses, o que demonstra claramente o envolvimento e compromisso da marca com o que é nacional e com os produtores nacionais. Os legumes representam, atualmente, cerca de 94% de produção nacional e as frutas cerca de 85%, sendo esta uma das áreas que mais tem crescido de ano para ano.

De referir ainda mais de 64% das referências de leite de marcas Continente são produzidas em Portugal e 90% do total de leite vendido nas lojas Continente tem origem em Portugal.

Outros exemplos que demonstram claramente o nosso envolvimento e compromisso com o que é nacional são a carne de aves com 90%, a carne de porco com 65%, o arroz com 99,7% e o vinho com 95,3%. No peixe é de referir que compramos nas 12 principais lotas nacionais.

A nível dos produtos de higiene e limpeza, mais de 66% são de produção nacional, dos quais se destacam o gel de banho marca própria que é 100% produzido em Portugal, os produtos de limpeza de casa (lixívia e lava-tudo, por exemplo) cuja produção nacional é de cerca de 86% e tem vindo a aumentar ao longo dos anos, os produtos de papel e consumíveis com cerca de 99% – o papel higiénico é 100% – e os básicos de saúde (por exemplo o álcool ou algodão) é cerca de 67%.

Infelizmente, e apesar dos esforços do Continente em apostar nos produtos nacionais, nem sempre é possível encontrar no mercado português, por questões de competitividade, capacidade de resposta e condições climatéricas, produção que permite garantir a variedade, aliada à melhor proposta de valor para os clientes.

Se um produtor quiser fazer parte do Clube dos Produtores, que passos tem de seguir?

Para se candidatar, o produtor ou associação de produtores deve ser produtor nacional e não intermediário na cadeia de abastecimento. Para se tornar membro do CPC deverá de estabelecer com a Sonae MC um contrato geral de fornecimento (quando aplicável), ter estabelecido um contrato-programa ou um contrato de parceria para o fornecimento de produtos em condições comerciais previamente estabelecidas e num prazo definido (quando aplicável), bem como cumprir o caderno de encargos técnico (características técnicas dos produtos e dos processos de produção) estabelecido pelo Clube de Produtores (quando aplicável).

O Clube de Produtores foi fundado em 1998. Nestes 16 anos, quais as maiores diferenças no que toca à relação com os vossos fornecedores e metodologias de trabalho?

Há 16 anos, o Clube de Produtores Continente assumiu dois grandes objectivos: dinamizar a agricultura nacional e disponibilizar artigos frescos de qualidade aos clientes com uma enorme variedade de produtos, como horto-frutícolas, carne, leite, charcutaria, queijos, pescado e marisco fresco, padaria, pastelaria, take-away, azeite, ovos e vinho.

Os objectivos estratégicos passam ainda pela selecção e promoção de produtos nacionais de elevada qualidade, através do acompanhamento técnico prestado aos seus associados, garantido simultaneamente uma via para o escoamento da sua produção.

A estratégia assenta no planeamento de produções locais baseado nas projecções de consumo, e que por este motivo, têm uma garantia de escoamento e desta forma permite uma optimização da capacidade de produção de cada exploração. Os produtores podem contar com o apoio técnico realizado por  elementos do Clube e com o acesso a protocolos, com entidades diversas do sector da agro-pecuária.

A certificação é também um processo importante no seio do clube. A definição de referenciais, a auto-avaliação com auditorias internas e implementação de ações correctivas nos sistemas de produção e a criação de uma dinâmica de evolução garantem a padronização da qualidade e preparam os produtores para os desafios futuros do mercado.

Para os consumidores estão asseguradas as boas práticas de segurança alimentar em toda a cadeia de produção e comercialização. A rastreabilidade dos produtos é conhecida e são satisfeitas as necessidades do presente sem comprometer o futuro, falando da responsabilidade e preservação ambiental, uma das linhas orientadoras do clube.

Qual a importância do evento Mercado de Sabores para a vossa relação com os produtores nacionais?

É de extrema importância. O papel que o CPC tem vindo a desempenhar é a promoção, junto do consumidor final, da produção nacional através de diversas iniciativas como o Mercado de Sabores, o Mega Pic-Nic ou a Feira Nacional de Agricultura em Santarém, onde os próprios produtores dão a conhecer, através de diversas acções, os seus produtos.

Todos os anos, em particular na manhã que antecede o Evento Mercado de Sabores, organizamos um encontro anual do CPC, em que são partilhados resultados, tendências e inovação no desenvolvimento de produtos ou de novas técnicas de produção.

Estes momentos visam potenciar em conjunto o que de melhor se faz no Clube de Produtores Continente – e este ano contámos com mais de 350 produtores.

Ao longo dos três dias de Mercado de Sabores fortalecem-se os laços entre ambas as partes e podemos, em parceria, dar a conhecer o trabalho do CPC e partilhar a experiência enriquecedora que é poder estar em contacto directo com o cliente final.

Muitos dos vossos produtores, provavelmente a maioria, são originários de centros rurais. Para quando um Mercado de Sabores longe de Lisboa ou Porto?

O Continente é uma marca presente no dia-a-dia dos portugueses e reconhecida nas várias regiões do país. Com o intuito de estar próximo das comunidades onde está inserido, promovendo momentos de lazer e diversão para toda a família, o Continente tem realizado diversos eventos em todo o país, como foi o caso do Tour Quim Roscas e Zeca Estacionâncio, que percorreu mais de 20 cidades. No ano passado, o Mercado de Sabores esteve presente na Alfândega do Porto durante três dias de grande animação, promovendo o que de melhor se produz em Portugal, fomentando a aproximação dos consumidores aos produtores locais e regionais e valorizando a produção nacional. Este ano o evento regressou a Lisboa para desvendar os novos sabores da cidade, numa viagem gastronómica marcada pela actualidade, com os melhores chefs portugueses.

Os portugueses já valorizam os produtos nacionais de forma natural ou ainda existe uma necessidade constante de reforçar a sua atractividade e importância para a economia e sociedade portuguesa?

Os portugueses valorizam muito a produção nacional, e é por isso que continuamos a apostar no CPC e numa participação activa junto do sector primário, com a procura dos melhores produtos e da melhor qualidade.

O Clube de Produtores abarca todo o ciclo da Economia Verde – algo que é raro num projecto empresarial: política social e económica – criação de emprego – e ambiental. Para onde pode evoluir o projeto e que novidades estão a prepara para o médio ou longo prazo?

O CPC já conta com 16 longos anos de sucessos, pelo que nos próximos anos queremos continuar a ter um papel relevante na divulgação da produção nacional, sempre com novos desafios e numa procura constante de acrescentar valor ao mercado nacional.





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