A canalização de água potável é um foco de superbactérias

A ameaça crescente de agentes patogénicos resistentes aos antimicrobianos (AMR) representa uma ameaça crítica para a saúde pública – e os sistemas de canalização de água potável constituem reservatórios significativos, mas negligenciados, destes micróbios problemáticos.
Apesar dos esforços internacionais para combater a AMR, a vigilância tem-se centrado principalmente em casos clínicos, enquanto os reservatórios ambientais – como os sistemas de canalização de água potável – continuam a ser pouco conhecidos.
Um estudo recente realizado por investigadores da Universidade de Flinders e de outras instituições importantes revelou descobertas alarmantes sobre a persistência de bactérias nas canalizações de água potável australianas e identificou riscos de transmissão significativos tanto em ambientes hospitalares como residenciais.
“A presença destas bactérias resistentes aos antimicrobianos em sistemas de canalização residenciais e hospitalares evidencia uma preocupação premente de saúde pública que requer atenção imediata”, afirma a Professora Harriet Whiley da Universidade de Flinders.
Publicado no Journal of Hospital Infection, o estudo avaliou a prevalência das principais ameaças de RAM – Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), Pseudomonas aeruginosa resistente a carbapenem e Acinetobacter baumannii – em amostras de água potável e biofilme de hospitais e residências em toda a Austrália.
As principais conclusões revelaram que:
- 73% das amostras residenciais de água e biofilme deram positivo para pelo menos um agente patogénico AMR, em comparação com 38% das amostras hospitalares.
- 45% das instalações sanitárias residenciais de água potável tinham pelo menos dois dos agentes patogénicos AMR visados, o que realça os riscos em ambientes domésticos.
- Os biofilmes de drenagem foram identificados como um importante reservatório de bactérias AMR, contribuindo para a sua persistência mesmo após os esforços de desinfeção.
- Foram encontrados genes de resistência aos carbapenemes em amostras de biofilmes que deram negativo para P. aeruginosa, o que sugere que os biofilmes podem atuar como reservatórios a longo prazo para genes de AMR, o que permitirá a propagação da resistência mesmo após a morte das bactérias originais.
- O MRSA, normalmente associado a superfícies secas e de elevado contacto, como grades de cama e maçanetas, foi detetado tanto em amostras de água como de biofilme. Isto indica que os agentes patogénicos AMR que não são tradicionalmente considerados de origem hídrica podem prosperar nos sistemas de canalização.
A resistência antimicrobiana é um dos desafios mais prementes do século XXI no domínio da saúde global. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para o facto de, até 2050, as infeções por RAM poderem causar 10 milhões de mortes por ano, ultrapassando assim o cancro como principal causa de morte a nível mundial.
As infeções resistentes já conduzem a internamentos hospitalares prolongados, a custos médicos mais elevados e a uma dependência crescente de antibióticos de último recurso, que estão a tornar-se menos eficazes.
“A nossa investigação sublinha a necessidade urgente de uma vigilância reforçada e de intervenções específicas para mitigar os riscos colocados pelos agentes patogénicos da RAM nos sistemas de água potável, especialmente em ambientes de cuidados de saúde ao domicílio”, afirma a investigadora principal, Claire Hayward.
Este estudo apela a melhores estratégias para gerir os riscos de RAM nas infraestruturas de água, especialmente em ambientes que albergam populações vulneráveis, como hospitais e instalações de cuidados a idosos.
O reforço da higiene dos sistemas de água, a monitorização de rotina e métodos inovadores de controlo do biofilme podem desempenhar um papel crucial na abordagem desta ameaça crescente.