A circularidade não é uma tendência, é uma responsabilidade partilhada

Por Alexander Silva Uzcategui Responsável de Sustentabilidade da Worten
Num mundo onde a inovação tecnológica avança a um ritmo vertiginoso, o que fazemos com os equipamentos elétricos e eletrónicos que deixamos para trás é tão importante quanto a escolha consciente dos que pretendemos comprar. É urgente lembrar que não há progresso verdadeiramente sustentável sem responsabilidade no consumo — e, acima de tudo, na forma como tratamos os resíduos que geramos.
Vivemos rodeados de dispositivos, de smartphones a máquinas de lavar, aspiradores, televisões ou airfryers. Em casa, no trabalho ou em jantares com amigos, estes equipamentos já se tornaram indispensáveis no nosso dia a dia e muitos acompanham-nos para todo o lado. Contudo, por cada equipamento novo que entra, há outro que sai. E a grande pergunta é: para onde vai?
Este é um dos maiores desafios ambientais da atualidade. Quando chegam ao fim da sua vida útil, muitos destes equipamentos tornam-se resíduos perigosos, uma vez que contêm substâncias como mercúrio, chumbo ou cádmio, altamente nocivas para a saúde humana e para os ecossistemas. Se descartados de forma indevida, em contentores indiferenciados, em matas ou junto a linhas de água, o impacto pode ser irreversível. Por outro lado, tratar estes resíduos de forma correta permite recuperar materiais valiosos, como o cobre, ouro ou alumínio, reduzindo a pressão sobre os recursos naturais.
Neste processo, as marcas que colocam equipamentos elétricos e eletrónicos no mercado devem ter um papel central na promoção da circularidade. Não basta oferecer produtos inovadores — é fundamental assegurar que existe um ciclo completo, do início ao fim, para a recolha e tratamento dos resíduos. Isso passa por assumir a responsabilidade na fase pós-consumo, criando pontos de recolha acessíveis para descartar este tipo de produtos e garantindo que os resíduos são encaminhados para entidades certificadas para receberem o tratamento adequado, além de promover campanhas que incentivem a entrega de equipamentos avariados ou obsoletos. A promoção da circularidade passa também por repensar o próprio modelo de negócio, investindo em negócios circulares como a venda de produtos recondicionados com garantia, o aluguer de equipamentos e a disponibilização de produtos outlet, que evitam o descarte de produtos depreciados. Estes são caminhos já consolidados e viáveis, que demonstram como é possível conjugar conveniência, preço e sustentabilidade numa só proposta de valor.
Para os consumidores, a mudança começa quando reconhecemos que os nossos hábitos têm impacto e ganha força nas escolhas que fazemos todos os dias. Hoje, já não é preciso escolher entre o que é mais fácil e o que é mais responsável. Existem alternativas sustentáveis que respondem às mesmas necessidades, com a mesma eficácia e, muitas vezes, com maior vantagem económica. Entregar um equipamento avariado ou obsoleto num ponto de recolha, reparar em vez de substituir, optar por um produto recondicionado, escolher artigos de outlet ou até alugar um determinado produto para experimentar antes de o comprar, são decisões que estão ao alcance de todos. A transição para uma economia mais circular é coletiva, e todos devemos ter um papel ativo nela.
Hoje, as opções para um consumo mais sustentável são muitas, estão ao nosso alcance, são cada vez mais competitivas — e, mais importante ainda, têm um impacto real. Ainda recentemente se assinalou o Dia Mundial da Reciclagem, e realmente precisamos de deixar de ver a reciclagem como um dever moral e começar a vê-la como parte do nosso estilo de vida em sociedade.