A melhor forma de combater a emergência climática é exigência com políticos, diz especialista

O académico e ambientalista Mike Berners-Lee acredita que a melhor forma de combater a emergência climática é as pessoas serem mais exigentes com os políticos, empresas e comunicação social que são desonestos e repetem “tretas”.
Autor de vários livros sobre as consequências das alterações climáticas, este académico britânico chegou à conclusão que só será possível inverter a atual trajetória confrontando e penalizando responsáveis e cúmplices.
“É muito fácil ir para a rádio e dizer coisas que sabemos que não são verdadeiras”, afirmou o académico britânico, professor na universidade de Lancaster, no norte de Inglaterra, durante uma apresentação da mais recente obra, “A Climate of Truth” [Clima de Verdade], em Londres.
Berners-Lee queixa-se do ‘bullshit’, que pode traduzir-se para português por ‘tretas’, e que “é uma espécie de mistura de factos e ficção, concebida apenas para persuadir”, invocando o filósofo norte-americano Harry G. Frankfurt, professor na Universidade de Princeton, que escreveu sobre o assunto.
Para “criar um ambiente da verdade”, Berners-Lee propõe uma equação: o preço a pagar por ser desonesto deve ser maior do que o benefício alcançado, multiplicado pelo rácio do esforço necessário para revelar a desonestidade a dividir pelo rácio do esforço necessário para ser desonesto.
“O preço de ser desonesto tem de ser muito elevado. Quando um político diz algo que é deliberadamente enganador mostra que não podemos confiar neles sobre esse assunto ou em nada que nos possa interessar”, argumentou.
Esta exigência, vincou, estende-se às empresas que tomam decisões contra o interesse comum e os órgãos de comunicação social que repetem as “tretas” dos políticos e das empresas.
“O que está em causa é este clima de verdade, porque não podemos chegar a lado nenhum se for tudo sabotado pelos níveis de engano que temos neste momento, e a boa notícia é que podemos mudar o rumo desta situação. É uma variável. É possível alterarmos esta variável”, argumentou.
Esta atitude do académico britânico é o resultado de anos a tentar alertar para as ameaças das alterações climáticas e a necessidade o uso de combustíveis fósseis para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e assim reduzir o aquecimento global.
Berners-Lee entende que “estamos a acelerar para uma ‘policrise’ de muitas coisas que estão a correr mal”, enumerando fatores de risco como as doenças, poluição, clima, biodiversidade e alimentação.
Uma aceleração das alterações climáticas pode ser causada pela deterioração da ‘permafrost’ (camada de solo permanentemente congelada) e consequente libertação de grandes quantidades de metano, seja pela perda de gelo e glaciares, referiu.
Mas também falou de como os químicos que compõem os plásticos que estão a poluir os oceanos e a contaminar alimentos que estão a interferir com a fertilidade e causar cancros nas pessoas.
Uma deterioração do ambiente pode ainda reduzir a produção de alimentos e isto pode resultar em conflitos sociais, acrescentou.
“Se olharmos para trás e virmos esta imagem de coisas que estão a surgir e que se relacionam umas com as outras, isto cria uma história bastante convincente que nos diz que estamos a acelerar para um problema que se vai tornar muito, muito desconfortável”, alertou.