Adaptar para sobreviver: Rápidas alterações genéticas podem estar a ajudar coiotes a viver nas cidades
A evolução é considerada um processo lento, cujos efeitos só ser conseguirão ver ao fim de muitos e muitos anos. Contudo, alguns casos desafiam essa ideia. O coiote (Canis latrans) é um deles.
Com a expansão da presença humana e das suas áreas urbanizadas, várias espécies de animais estão a trocar os contextos rurais pelas cidades. Uma delas é o coiote, um canídeo selvagem icónico da fauna urbana da América do Norte.
Para viverem e singrarem em meios urbanos, os animais têm de se adaptar rapidamente aos novos ambientes, desde o tipo de alimentos que podem encontrar a estratégias de sobrevivência que lhes permitam escapar aos riscos da coexistência próxima com os humanos.
Um trio de investigadoras norte-americanas quer perceber que mudanças no mapa genético dos coiotes permitem que consigam sobreviver nas cidades, uma vez que, como diz Elizabeth Carlen, da Universidade de Washington em Saint Louis e uma das autoras do artigo publicado na revista ‘Genome Biology and Evolution’, esses animais “estão a dar-se muito bem em espaços urbanos”.
As cientistas consideram que os coiotes, por serem “um carnívoro altamente adaptável”, podem ser a chave para a compreensão de como a urbanização está a alterar os genomas de animais selvagens, transformações que têm de acontecer rapidamente. Para isso, é preciso, por exemplo, comparar as diferenças entre os genomas de coiotes que vivem em cidades e coiotes que vivem no campo.
Embora já vários estudos científicos tenham documentado as diferenças ecológicas entre coiotes urbanos e rurais, e se saiba que existem diferenças genéticas entre uns e outros, ainda não se conseguiu identificar os genes ou regiões do genoma específicos que são afetados nessa transição.
Em meio rural, os coiotes têm dietas à base de coelhos e roedores, podendo incluir também outros pequenos mamíferos. No entanto, nas cidades as fontes de alimento são diferentes, desde resíduos humanos a ração para cães deixada na rua.
Em comunicado, Carlen diz que isso resultaria numa maior ingestão de glucose e amido. Dessa forma, com o aumento da ingestão de açúcares, o organismo dos coiotes tem de ser capaz de uma melhor regulação da insulina, algo que poderá estar codificado nos genes dos espécimes urbanos.
Por outro lado, com uma alimentação mais rica em amido, têm também de ser capazes de decompor esse polissacarídeo com uma maior expressão dos genes que produzem a enzima amílase. Os genomas dos cães (Canis familiaris) mostram um grande número de cópias de um gene conhecido como AMY2B, responsável pela produção da amílase, que aumenta a eficiência da digestão do amido. Algo semelhante pode estar a acontecer com os coiotes.
Este estudo é apenas o começo. O objetivo é apresentar genes ou zonas do genoma que possam ser bons candidatos a investigações posteriores que queiram descobrir como é que os coiotes se têm adaptado tão bem aos meios urbanos.
“Embora vejamos um crescimento contínuo do campo da evolução urbana, investigações que associem genes específicos a adaptações em regiões urbanas são ainda relativamente escassas”, aponta Carlen.