Alterações climáticas apontadas como uma das principais causas do declínio global dos anfíbios



A perda de habitat e as doenças têm sido amplamente apontadas, e estudadas, duas das grandes causas que estão a impulsionar perdas nas populações de várias espécies de anfíbios. Agora, um grupo de especialistas nesse grupo de vertebrados alerta que os efeitos das alterações climáticas estão rapidamente a subir na lista das principais ameaças.

Num artigo publicado esta semana na revista ‘Nature’, especialistas do grupo de anfíbios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e dezenas de outros investigadores revelam, com base na análise de dados dos últimos 20 anos, que, de mais de oito mil espécies de rãs avaliadas, salamandras e cecílias, duas em cada cinco estão ameaçadas de extinção.

Só entre 2004 e 2022, mais de 300 espécies terão sido empurradas para ainda mais perto do precipício da extinção, sendo que 39% delas tiveram as alterações climáticas como causa. E os cientistas dizem que a realidade pode ser ainda mais grave, à medida que mais e melhores dados forem recolhidos e estudados.

Só entre 2004 e 2022, mais de 300 espécies de anfíbios terão sido empurradas para ainda mais perto do precipício da extinção, sendo que 39% delas tiveram as alterações climáticas como causa.
Foto: David Clode / Unsplash

Para os anfíbios, as alterações climáticas representam uma ameaça mais preocupante do que para outros grupos, uma vez que esses animais são “particularmente sensíveis a alterações nos seus ambientes”, explicam.

“À medida que os humanos provocam mudanças no clima e nos habitats, os anfíbios tornam-se prisioneiros climáticos, incapazes de se moverem para muito longe para escaparem às alterações climáticas”, que estão a intensificar, e a tornar mais duradouros e mortíferos, eventos climáticos extremos, como incêndios, cheias, tempestades e ondas de calor, afirma Jennifer Luedtke Swandby, do grupo de especialistas da UICN e uma das autoras do artigo.

Para ela, “o nosso estudo mostra que não podemos continuar a subestimar esta ameaça. Proteger e restaurar as florestas é essencial, não apenas para proteger a biodiversidade, para também para combater as alterações climáticas”.

A par dessa ameaça global, com impactos locais, a perda de habitat devido à expansão agrícola e da presença humana continuam a ser uma ameaça bastante presente aos anfíbios, e a uma miríade de outras espécies, quer animais, quer vegetais. De acordo com o artigo, a destruição e degradação dos habitats afeta 93% de todas as espécies de anfíbios classificadas atualmente como ameaçadas.

“À medida que os humanos provocam mudanças no clima e nos habitats, os anfíbios tornam-se prisioneiros climáticos, incapazes de se moverem para muito longe para escaparem às alterações climáticas”, alertam os especialistas.
Foto: Tyler Donaghy / Unsplash

As salamandras são o grupo de anfíbios que mais sofre com a forma displicente com que os humanos têm tratado o planeta. Dizem os especialistas que três em cada cinco espécies estão ameaçadas de extinção, sobretudo devido à destruição dos seus habitats naturais e dos efeitos das alterações climáticas.

Contas feitas, estima-se que, a nível mundial, 41% de todas as espécies de anfíbios estejam hoje ameaçadas de extinção, com estatutos de ‘Criticamente em Perigo’, ‘Em Perigo’ ou ‘Vulnerável’. Para podermos ter uma noção da dimensão do problema, 26,5% das espécies de mamíferos, 21,4% dos répteis e 12,9% das aves carregam estatutos de ameaça.

Nos últimos 20 anos, quatro espécies de anfíbios já se extinguiram: Atelopus chiriquiensis, Taudactylus acutirostris, Craugastor myllomyllon e Pseudoeurycea exspectata. E os investigadores alertam que outras 160 podem ter seguido o mesmo desfecho trágico, embora ainda estejam a ser recolhidas evidências que permitam clarificar o seu estado de conservação.

Mas nem tudo são más notícias, pois 120 espécies incluídas na Lista Vermelha da UICN melhoraram o seu estado de conservação desde a década de 1980, fruto, sobretudo, de programas de conservação.

“Os anfíbios estão a desaparecer mais rapidamente do que a velocidade que a conseguimos estudá-los”, diz Kelsey Neam, uma das principais autoras do artigo. Mas aponta que “a lista de razões para protegê-los é longa”, uma vez que permitem avanços na Medicina, ajudam no controlo de pragas, servem como indicadores do estado ambiental e “tornam o planeta mais belo”.





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