Análises genéticas provam, pela primeira vez, que orcas estão a caçar tubarões-brancos na Austrália
![](https://greensavers.sapo.pt/wp-content/uploads/2023/03/mike-doherty-iyVSCp0ZUj0-unsplash-1-e1678446522393.jpg)
As orcas (Orcinus orca) são predadores altamente eficazes e cooperativos. Tal como alguns carnívoros em terra, como os lobos ou os leões, esses cetáceos dicromáticos coordenam-se com os outros membros do grupo para caçarem grandes presas, como focas ou mesmo outras baleias.
Investigações ao longo da última década têm revelado que as orcas são também predadoras de predadores. São conhecidas como caçaram tubarões-brancos (Carcharodon carcharias), alimentando-se sobretudo do fígado da presa. Esses eventos não são comuns e têm sido testemunhados quase exclusivamente ao largo da costa de África do Sul.
Contudo, um estudo publicado recentemente na revista ‘Ecology and Evolution’ sugere que o apetite das orcas por tubarões-brancos, eles próprios formidáveis predadores marinhos, poderá estar mais difundido do que pensava.
No dia 17 de outubro de 2023, a carcaça de um tubarão-branco, com quase cinco metros de comprimento, deu à costa na Baía de Bridgewater, a oeste da cidade de Portland, no estado australiano de Victória. A deteção do cadáver surgiu dois dias após terem surgido vários relatos de avistamento de um trio de orcas nessas águas.
![](https://greensavers.sapo.pt/wp-content/uploads/2025/02/ece370786-fig-0001-m.jpg)
Foto: Ben Johnson, Portland Bait and Tackle (Fonte: Artigo)
O corpo foi recolhido e, em laboratório, os investigadores perceberam que a zona abdominal do tubarão tinha praticamente desaparecido, incluindo o fígado, o sistema digestivo e os órgãos sexuais. Foram identificadas várias mordeduras, o que sugeria múltiplos predadores, sendo que uma das maiores, com cerca de 50 centímetros de diâmetro na zona da caixa torácica, assemelhava-se a mordidas registadas em tubarões-brancos caçados por orcas na África do Sul.
Para identificarem os autores da morte, os investigadores recolheram material genético presente nas feridas e concluíram que a principal mordida, a maior das quatro detetadas, continha ADN de orcas. As restantes três foram atribuídas ao caça-bruxa (Notorynchus cepedianus), um necrófago.
“Estas descobertas fornecem provas irrefutáveis de predação de tubarões-brancos por orcas em águas australianas”, declara, em comunicado, Isabella Reeves, primeira autora do artigo e investigadora da Flinders University e do Cetacean Research Centre.
Para a cientista, os resultados sugerem que a caça de tubarões-brancos por orcas pode ser um comportamento “mais difundido e significativo” do que se julgava e pode estar a acontecer também noutras partes do mundo.
Embora já se soubesse que as orcas predavam algumas espécies de tubarões na Austrália, como o tubarão-azul (Prionace glauca), o tubarão-anequim (Isurus oxyrinchus), o perna-de-moça (Galeorhinus galeus) e o tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier), este é o primeiro caso documentado e cientificamente confirmado de predação de um tubarão-branco por orcas na Austrália.
Apesar disso, não se sabe com que frequência isso acontece na região, mas os investigadores temem que possa provocar impactos, de efeito ainda desconhecido, nos ecossistemas marinhos. Isto, porque os tubarões-brancos, como predadores de topo, ajudam a manter a saúde dos ecossistemas e a predação das orcas pode, por exemplo, levar os tubarões a abandonarem os seus habitats.
Adam Miller, outro dos autores do artigo, recorda que os dados recolhidos na África do Sul apontam já para possíveis efeitos em cascata causados pela predação das orcas. “Por isso, é importante mantermo-nos atentos a estes tipos de interações em águas australianas, sempre que possível”, salienta.