Aquecimento global abaixo dos dois graus só possível num cenário de “emissões muito baixas”

Só com uma redução drástica das emissões de gases com efeito de estufa a nível mundial será possível manter o aquecimento global bem abaixo dos dois graus Celsius, compromisso assumidos pelos governos do mundo em 2015 com a assinatura do Acordo de Paris.
De acordo com uma investigação publicada recentemente na revista ‘Environmental Research Letters’, cientistas do Instituto de Potsdam para a Investigação do Impacto Climático (Alemanha) alertam que num cenário de emissões moderadas o planeta poderá aquecer setes graus Celsius até 2200.
Os investigadores dizem que tal se deverá a efeitos de retroação do ciclo de carbono não previstos nos modelos de previsão climática em uso.
“O nosso estudo mostra que mesmo em cenários de emissões tipicamente considerados ‘seguros’, nos quais geralmente se considera que o aquecimento global se manterá abaixo dos 2ºC, os ciclos de retroação climático e de carbono, como o degelo do permafrost [pergelissolo em português] poderão levar a aumentos de temperatura substancialmente acima desse limiar”, explica, em comunicado, Christine Kaufhold, primeira autora do artigo.
Com base em modelos computacionais de previsão climática, acrescenta que “descobrimos que o pico de aquecimento poderá ser muito mais elevado do que anteriormente esperado em cenários de emissões baixas a moderadas”.
Os cientistas dizem que este estudo é o primeiro a traçar projeções sobre os impactos a longo-prazo das alterações climáticas causadas pelas atividades humanas e que mesmo pequenas alterações nos níveis de emissões podem provocar um aumento muito maior do aquecimento face aos modelos de previsão que servem frequentemente de base para essas projeções, pondo em risco o cumprimento das metas do Acordo de Paris.
Para Kaufhold, os resultados da investigação revelam a “necessidade urgente” de reduções maiores e mais céleres das emissões de dióxido de carbono e a intensificação dos esforços de remoção desse gás com efeito de estufa da atmosfera.
Os autores consideram que a maioria dos estudos tem horizontes temporais muitos curtos, não permitindo projeções mais precisas, sendo que este estudo procurou olhar para a evolução do aquecimento ao longo de todo o presente milénio e construir possíveis cenários de aquecimento com base nas atuais tendências de descarbonização.
“Os nossos resultados mostram que o objetivo do Acordo de Paris só é alcançável em cenários de emissões muito baixas”, aponta Matteo Willeit, coautor do estudo.
Outro dos investigadores envolvidos neste trabalho, Johan Rockström, avisa que a janela de oportunidade para manter o aquecimento global abaixo dos dois graus Celsius “está a fechar-se rapidamente”, sendo que “estamos já a ver sinais de que o sistema da Terra está a perder resiliência”, o que podem catalisar efeitos de retroação que “aumentam a sensibilidade climática, acelerar o aquecimento e aumentar desvios das tendências previstas”.
Para ele, “para assegurar um futuro habitável, precisamos urgentemente de aumentar os nossos esforços de redução de emissões”, salientando que “o objetivo do Acordo de Paris não é apenas uma meta política, é um limite físico fundamental”.