Aranhas-do-mar “cultivam” bactérias consumidoras de metano nos seus corpos



A quase 50 quilómetros da costa da cidade de Del Mar, na Califórnia, e a mil metros de profundidade, foi descoberto, em 2012, um afloramento de metano, libertado do interior do planeta através de uma fratura na crusta terrestre.

Foi nesse mesmo local que, uma década depois, outro grupo de investigadores descobriu que as aranhas-do-mar do género Sericosura e um tipo de bactérias que prosperam nesses ambientes duros partilham uma história de vida, em aparente simbiose.

Num artigo publicado na revista ‘PNAS’, os cientistas dizem que essas aranhas-do-mar cultivam as bactérias nos seus próprios exosqueletos, uma camada dura que reveste o corpo de muitos invertebrados, e depois alimentam-se delas, algo como uma “horta ambulante” em forma de casaco.

Comunidades semelhantes de bactérias foram também encontradas nos sacos de ovos que os machos desses artrópodes carregam, o que sugere, dizem os investigadores, que as bactérias são transmitidas dos progenitores para a descendência.

Outros grupos de aranhas-do-mar – que não são aracnídeos mas fisicamente parecem-se com eles – alimentam-se habitualmente de outros invertebrados, mas estas Sericosura obtêm a sua energia através das bactérias, que metabolizam o metano, uma fonte energética que as aranhas-do-mar, por si só, não conseguiriam aproveitar.

Através da recolha de espécimes e da sua análise minuciosa, a equipa descobriu que os “casacos bacterianos” de algumas das aranhas-do-mar Sericosura tinham o que pareciam marcas, que dizem ter sido feitas das bocas dos próprios artrópodes quando arrancaram pedaços de bactérias para se alimentarem (imagine o leitor estar vestido com um casaco feito de algodão-doce, e que, de tempos a tempos, vai dando umas mordidas nele).

“O nosso estudo pretendia examinar as formas como animais muitas vezes ignorados aproveitam novas fontes de energia, como o metano. Embora o fundo do mar parece muito distante, todos os organismos estão interligados, e os processos num ecossistema afetam outro”, diz, em comunicado, Shana Goffredi, da Occidental College (Estados Unidos da América) e uma das principais autoras do estudo.

A mesma equipa, além de descrever esta relação entre as aranhas-do-mar Sericosura e as bactérias, encontrou também o que acredita serem três novas espécies desse mesmo género, que, ao que tudo indica, vivem apenas nos locais onde há fugas de metano do centro da Terra.






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