Avanços e recuos do gelo regem a vida das focas na Antártida

Desde 1977 que os cientistas andam a contar focas na ilha Signy, no remoto arquipélago das Órcades do Sul, na Antártida. Agora com quase 50 anos de dados em mãos, vislumbram o que o futuro poderá reservar para esses mamíferos marinhos que vivem no pólo meridional da Terra, e há motivos para preocupação.
Conjugando as observações feitas no terreno com imagens de satélite que permitem acompanhar as áreas cobertas por gelo, os investigadores do British Antarctic Survey, num artigo publicado na revista ‘Global Change Biology’, revelam que duas espécies de focídeos (focas “verdadeiras”, sem orelhas) – o elefante-marinho-do-sul (Mirounga leonina) e a foca-de-weddell (Leptonychotes weddellii) – e uma espécie de otariídeo (com orelhas) – o lobo-marinho-antártico (Arctocephalus gazella) – estão a registar declínios populacionais acentuados.

Os cientistas, depois de terem esquadrinhado décadas de dados recolhidos na ilha Signy, dizem que as focas-de-weddell e os lobos-marinhos-antárticos perderam 54% e 47% das suas populações, respetivamente, nos últimos 47 anos. Essas perdas, dizem os autores do estudo, contradizem estudos anteriores que apontavam para uma estabilização das populações. Em particular os lobos-marinhos estão em declínio contínuo desde 2015.
Embora para os elefantes-marinhos-do-sul não tenham sido identificados declínio de longo-prazo durante o período de estudo, os investigadores dizem, contudo, que a espécie partilhou uma tendência de redução populacional semelhante à dos lobos-marinhos desde o final dos anos 1990 e até aproximadamente 2005.
As variações nos números das populações de cada uma destas três espécies estão associadas ao recuo e ao avanço do gelo ao longo do ano e ao longo dos 50 anos de estudo. As focas-de-weddell dependem inteiramente do gelo para poderem reproduzir-se e caçar, ao passado que os lobos-marinhos-antárticos se reproduzem em terra mas alterações na cobertura de gelo afetam, por exemplo, a disponibilidade das suas presas e, por isso, as suas próprias populações.

Os investigadores dizem que só com estudos de longo-prazo, ao longo de várias décadas, é possível perceber as forças que regem as dinâmicas populacionais destas espécies, algo que investigações temporalmente curtas não permitem.
Essas perdas populacionais das focas-de-weddell e dos lobos-marinhos-antárticos podem ser ainda mais agravadas à medida que o planeta aquece e as áreas, sobretudo no mar, cobertas por gelo são cada vez mais reduzidas e duram cada vez menos tempo.