Carro elétrico vs. Carro a combustível: quem polui mais?



Já nos aconteceu várias vezes: quando o tópico de conversa recai sobre os carros elétricos, muitas pessoas apontam logo o dedo e acusam estes veículos de serem piores para o meio ambiente do que um carro convencional, por causa da sua bateria.

Estas opiniões são muitas vezes construídas com a leitura de artigos em meios de comunicação que se limitam a reproduzir fontes que ou não são totalmente de confiança ou reproduzem apenas parte da verdade.

Mas afinal, conduzir um carro elétrico é mesmo pior para o ambiente do que um a gasolina ou gasóleo?

A resposta curta é: não, não é pior – muito pelo contrário.

E antes de avançarmos com explicações ponto por ponto, temos de dizer o seguinte: a indústria é uma atividade humana com um enorme impacto ambiental. Disto não há a menor dúvida e temos de exigir dos nossos governantes medidas concretas para diminuir o seu grande impacto no mundo natural. Também não estamos a dizer que conduzir um carro elétrico equivale a ser amigo do ambiente – é muito mais sustentável andar de bicicleta, por exemplo.

Para este texto, o que nos interessa concretamente é a comparação direta entre um veículo elétrico (VE) e um a gasolina ou gasóleo (ICE).

 

Impacto ambiental da produção
Os estudos que existem mostram que, na construção de um carro, a quantidade de CO2 produzido varia imenso dado que existem muitos tipos de carro – os estudos oscilam entre as 2 e as 17 toneladas, consoante o veículo.

Independentemente do estudo, há o consenso de que um VE produz mais CO2 por causa da bateria – o que faz sentido, dado que é um componente extra. Se não fosse a bateria, um veículo elétrico até poluía menos que um equivalente a combustível, dado que é mais simples do ponto de vista mecânico. Por outro lado, quanto maior a bateria, maior é também a poluição provocada – o que, novamente, faz sentido. Todavia, aqui também temos de chamar a atenção para o facto de que nem todas as baterias são fabricadas de modo igual. Por exemplo, a Gigafactory da Tesla será alimentada a 100% a energia solar até ao final de 2019.

Mas – e este é um grande mas – a grande fatia da poluição de um veículo provém do uso e não da sua produção.

Foto: Jason Blackeye / Unsplash

Impacto ambiental da condução
Assim que sai da linha de produção, um veículo a combustível fóssil (ICE) continua a poluir dado que tem de queimar gasolina e gasóleo. Um VE, todavia, funciona a eletricidade, e nos dias que correm a eletricidade provém cada vez mais de fontes renováveis. E mesmo quando a eletricidade provém de fontes sujas como é o caso do carvão, é preciso ter em conta que um carro elétrico é muito mais eficiente a transformar essa energia em movimento quando comparado com um ICE. Assim, num VE entre 80 a 90% da energia é transformada em movimento, valor que desce para cerca de 25% num ICE. Ah, e não nos podemos esquecer da energia que é preciso gastar para extrair petróleo, refiná-lo e transportá-lo para a bomba de gasolina. Não é justo comparar as “emissões” de um VE tendo em conta a fonte da eletricidade que usa, e depois não usar também esse raciocínio nas emissões de um carro a combustível – os 100g de CO2 por 100km que um ICE diz que emite não têm em conta as emissões associadas à extração do petróleo, e provavelmente deviam para que todos tenhamos a real consciência das emissões associadas à sua condução.

Nos EUA, um ICE emite, em média, 5,19 toneladas de CO2 por ano. Já um elétrico emite 2,02 toneladas de CO2. E porquê? Porque naquele país, tal como noutros, a quantidade de energia renovável produzida varia imenso, e ainda há Estados muito dependentes do carvão.

Mas ainda assim, e mesmo poluindo um pouco mais durante o fabrico, estes números mostram que um VE começa a emitir menos CO2 que um a combustível fóssil ao fim de apenas 1,6 anos.

O lítio das baterias é mau para o ambiente
Como dissemos no início, todas as indústrias poluem. Mas o lítio presente nas baterias até nem é tão mau quanto o pintam. A quantidade de lítio presente nas baterias é muito menor do que se possa pensar – apenas 5%. Já a extração de lítio provém na sua maioria de zonas completamente estéreis e despovoadas, que não têm qualquer impacto nem na vida humana nem animal – como é o caso do deserto de Atacama, onde está grande parte da produção mundial de lítio.

Mais problemático é o uso de cobalto, que provém normalmente de zonas em guerra e cuja extração pode recorrer a trabalho escravo. Mas existem muitas receitas de baterias recarregáveis e nem todas usam cobalto. E as empresas que usam estão a diminuir a sua dependência deste minério.

Mais uma vez, temos que ser justos e falar também do enorme impacto ambiental da prospeção petrolífera, que essa sim é feita muitas vezes em zonas habitadas ou no leito oceânico com consequências graves para o ecossistema marinho – veja-se o caso do derrame petrolífero no Golfo do México que dura há 14 anos.

Deserto de Atacama ESO/S. Guisard / CC BY 4.0

As baterias duram pouco tempo e depois vão para o lixo
Este mito é totalmente falso. Todos os fabricantes dão uma garantia de vários anos às suas baterias, com muitos a optar pelos oito anos. O tempo real que as baterias duram depnde de vários fatores, como temperatura, a forma como são carregadas e descarregadas, química usada…

De um modo geral, para que a bateria dure muitos anos em boa forma é preciso evitar cargas a 100% e descargas profundas, que coloquem a bateria abaixo dos 20%. Assim, se a bateria do VE for pequena e o seu percurso diário for longo, os ciclos de carga/descarga da bateria serão muito exigentes. Assim, esta bateria vai durar muito menos tempo que uma outra maior, usada por alguém cujo percurso diário seja mais curto.

Quando chegam ao fim da sua vida útil, as baterias não vão simplesmente para o lixo como muitos querem fazer crer. Os fabricantes reciclam os seus materiais ou usam-nas em projetos de armazenamento de energia, como a central que a Renault está a construir e que deverá estar pronta já em 2019.

Lançamento do Advanced Battery Storage da Renault.

Uma bicicleta é melhor para o ambiente
Claro que é. Ninguém disse o contrário. É claro que não faz sentido do ponto de vista da eficiência ter um carro para fazer deslocar uma pessoa. Este artigo pretende apenas fazer uma comparação direta entre um carro elétrico e um movido a combustíveis fósseis. E por muito que o lóbi do petróleo queira, a verdade é que um veículo elétrico polui muito menos que um veículo a combustível fóssil. E mesmo que a rede elétrica fosse na sua maioria constituída por centrais a carvão – o que não é o caso em países como Portugal – a verdade é que um VE vai ficando mais limpo à medida que os anos passam e a rede vai mudando para fontes renováveis, coisa que nunca irá acontecer com um carro a gasolina ou gasóleo. Aliás, estes últimos vão ficando mais poluentes, à medida que os seus motores vão perdendo eficiência.





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