Cavalos semisselvagens podem ajudar a reduzir risco de incêndio

O pastoreio de cavalos semisselvagens em liberdade pode ajudar a reduzir o risco de incêndios florestais e aumentar a biodiversidade nas paisagens mediterrânicas, indica um estudo divulgado hoje.
Publicado na revista científica “Frontiers in Ecology & Evolution”, o estudo, de três anos, foi feito no Vale do Coa, norte do país, concluindo que quando grupos de diferentes herbívoros pastam nas mesmas paisagens pode ser mais eficaz na redução de risco de incêndio.
A organização “Rewilding Portugal”, uma das entidades responsáveis pelo estudo e pela sua divulgação, explica em comunicado que desde a sua formação em 2011 a “Rewilding Europe” está a reintroduzir cavalos semisselvagens em muitas paisagens da Europa, um deles o cavalo Sorraia, no Grande Vale do Coa.
A “Rewilding Portugal” é uma organização sem fins lucrativos, criada em 2019 na Guarda, que trabalha no norte do país em zonas com grande abandono rural.
O processo “rewilding”, ou renaturalização, é uma forma de restauração ecológica que visa aumentar a biodiversidade e restaurar processos naturais.
No comunicado, explica que através do pastoreio natural, e de outras interações com as paisagens e a sua vida selvagem, os cavalos selvagens e semisselvagens desempenham um papel ecológico essencial, razão pela qual é tão importante restaurar as populações em toda a Europa.
Os cavalos ajudam a criar um mosaico de habitats diversos e ricos em natureza, rompendo os prados e criando áreas de pastoreio, contribuindo também para a disseminação de espécies vegetais e atuando como fertilizantes naturais.
“Ao consumirem vegetação inflamável, podem reduzir a quantidade de combustível disponível para incêndios florestais catastróficos, enquanto a presença de raças icónicas de cavalos nas paisagens pode impulsionar o crescimento do turismo baseado na natureza, como os cavalos Sorraia estão a fazer no Grande Vale do Côa nas nossas áreas ‘rewilding’”, diz a organização no comunicado.
O estudo da transição de pastoreio de gado tradicional para os cavalos foi feito em duas áreas de renaturalização, Vale Carapito e Ermo das Águias, atualmente exclusivamente pastoreadas por cavalos Sorraia, uma raça portuguesa reintroduzida pela equipa da “Rewilding Portugal”.
Concluiu-se que o pastoreio de cavalos nas duas áreas reduziu o risco de surtos catastróficos de incêndios florestais, reduzindo a altura e a quantidade de vegetação. E que os cavalos tiveram pouco impacto na vegetação lenhosa, pelo que os autores da investigação sugerem a combinação de diferentes herbívoros para maior eficácia na redução de risco de incêndios.
O estudo também mostrou, segundo o comunicado, que o pastoreio por cavalos Sorraia aumentou a proporção de plantas com flor na paisagem, o que pode aumentar a quantidade de alimento disponível para insetos polinizadores, e aumentou a quantidade de matéria orgânica no solo.
A reintrodução de grandes herbívoros nas paisagens europeias é uma das principais atividades da “Rewilding Europe”, sendo o cavalo selvagem uma das espécies-alvo.
Além da “Rewilding Portugal” participaram no estudo a Universidade de Lisboa, a Rewilding Europe e o “Hill and Mountain Research Centre of Scotland’s Rural College”.