Cientistas alertam para impactos da mineração em mar profundo em golfinhos e baleias no Pacífico

Em 2020, a empresa canadiana The Metals Company adquiriu contratos de exploração de minerais nas águas profundas da Zona de Clarion-Clipperton, no leste do Oceano Pacífico. Uma equipa de cientistas alerta para os perigos para a vida marinha.
Num estudo, que será publicado na revista ‘Frontiers in Marine Science’, investigadores dizem ter detetado a presença de várias espécies de cetáceos nessa zona, em áreas nas quais poderá vir a haver exploração de nódulos metálicos. Através de análise acústica, com recurso a hidrofones a partir do navio “Arctic Sunrise” da Greenpeace, a equipa diz ter identificado golfinhos-comuns (Delphinus delphis), golfinhos-de-risso (Grampus griseus) e cachalotes (Physeter macrocephalus), espécie classificada como “Vulnerável” ao risco de extinção na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza.
Num outro artigo, publicado na revista ‘Marine Pollution Bulletin’, outro grupo de cientistas alerta que o ruído das operações de mineração em mar profundo na zona de Clarion-Clipperton pode afetar negativamente uma grande diversidade de espécies marinhas, especialmente aquelas cujas vidas dependem do som.
“Sabemos incrivelmente pouco sobre esses ecossistemas, que estão a centenas de milhas da costa e incluem águas muito profundas”, diz, em comunicado, Kristen Young, da Universidade de Exeter (Reino Unido), e uma das autoras do segundo artigo.
A poluição sonora não é apenas um problema em terra nem apenas para os humanos. É-o também no mar e para os animais que aí vivem. De acordo com os investigadores, o ruído que será produzido pela extração de minerais em mar profundo poderá ter “consequências ecológicas em cascata”, alterando os comportamentos e impedindo a comunicação dos animais.
Essas perturbações podem dificultar ou mesmo impedir a caça, uma vez que muitos dos animais marinhos que dependem do som coordenam as suas caçadas vocalmente entre vários membros do grupo, e podem levar ao abandono de habitats que são fundamentais para a sobrevivência das espécies que os deixam.
“Se a mineração em mar profundo se tornar uma realidade, baleias e golfinhos ficarão expostos a múltiplas fontes de ruído através da coluna de água”, avisa Young.
Louisa Casson, da Greenpeace International e que esteve envolvida no estudo de exploração acústica da zona de Clarion-Clipperton, afirma, em nota, que “a confirmação da presença de cetáceos, incluindo os ameaçados cachalotes, em áreas que a The Metals Company está a visar para mineração em mar profundo é mais um claro alerta de que nunca se poderá permitir que esta indústria perigosa inicie operações comerciais”.
No seu portal, a empresa diz que as áreas na zona de Clarion-Clipperton que espera vir a explorar (recorde-se que a mineração em mar profundo à escala comercial ainda não foi permitida pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, a ISA) têm níquel, cobre, cobalto e manganês suficiente para, provavelmente, produzir mais de 250 milhões de baterias para carros elétricos.
À medida que o mundo, ou parte dele, avança a passos largos para uma era de menor dependência dos combustíveis fósseis, a urgência da transição energética e a urgência de conservar a Natureza e a biodiversidade frequentemente chocam, tanto no mar como em terra firme.