Cientistas portugueses descobrem que ondas de calor afetam o cérebro dos peixes



Uma equipa de quatro investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) descobriu que as ondas de calor afetam negativamente o desempenho cognitivo dos bodiões-limpadores (Labroides dimidiatus).

As ondas de calor, intensificadas pelo aumento das temperaturas globais, têm afetado profundamente os ecossistemas marinhos. Entre os mais afetados, destacam-se os recifes de coral, essenciais à biodiversidade marinha e às suas interações. Um exemplo destas interações complexas é a relação estabelecida entre bodiões-limpadores com os seus clientes.

Estes pequenos peixes desempenham um papel essencial, ao removerem parasitas de peixes clientes, mantendo assim a saúde e diversidade das populações marinhas. No entanto, o aquecimento das águas tem mostrado impactos negativos significativos, no seu comportamento e fisiologia, como revela um artigo publicado na revista ‘Functional Ecology’.

Através de experiências em laboratório, os investigadores perceberam que, após enfrentarem uma onda de calor, os bodiões-limpadores apresentavam uma recuperação no seu desempenho cognitivo. Contudo, mantinham temporariamente alguns défices.

Mas o mais alarmante, diz a equipa portuguesa em comunicado, foram as alterações morfológicas no cérebro dos peixes. Embora o tamanho total do cérebro dos peixes expostos fosse significativamente maior, o telencéfalo (a região associada a funções cognitivas superiores e comportamentos sociais) estava notavelmente reduzido, enquanto o tronco cerebral apresentava um aumento considerável.

Esse desequilíbrio na estrutura cerebral sugere que, embora os efeitos cognitivos possam ser reversíveis a curto-prazo, as mudanças nas regiões cerebrais associadas a funções cognitivas superiores (como as interações sociais) podem ter impactos duradouros.

“Isto significa que as mudanças estruturais causadas pelas ondas de calor podem interferir com as interações ecológicas e com o papel vital dos peixes-limpadores nos recifes de coral”, alertam os cientistas.

Para eles, este estudo destaca a importância de estratégias de conservação que vão além da proteção física dos recifes e das populações de peixes.

“A preservação da função ecológica dos peixes-limpadores, que são fundamentais para a saúde dos recifes de coral, depende também de ações que minimizem os impactos do aquecimento global e das ondas de calor marinhas, garantindo a recuperação não só das populações, mas também das capacidades cognitivas e sociais dessas espécies”, defendem.






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