Corais na Austrália Ocidental sofrem o maior evento de branqueamento de sempre
Entre agosto do ano passado e o último mês de maio, os corais ao longo da costa marítima da Austrália Ocidental sofreram o maior evento de branqueamento registado para esse estado australiano. De acordo com os cientistas, tal deveu-se à “mais longa, maior e mais intensa” onda de calor marinha alguma vez documentada nessa região.
O aumento da temperatura da água do mar fez com que os corais expulsassem as algas que vivem nos seus corpos, numa relação simbiótica, e que lhes conferem as cores exuberantes que associamos a recifes de coral saudáveis. Sob stress térmico e sem os seus parceiros fotossintéticos, os corais tornam-se brancos, dá o nome “branqueamento”.
Se a temperatura se mantiver muito elevada durante períodos longos, os corais podem mesmo morrer.

Os danos causados por essa onda de calor ainda demorarão a alguns meses a avaliar, e estendem-se por uma área de cerca de 1.500 quilómetros, de acordo com investigadores do Instituto Australiano de Ciência Marinhas (AIMS, na sigla em inglês), um organismo governamental.
Segundo os especialistas, a onda de calor atingiu o seu pico entre dezembro de 2024 e janeiro deste ano, mas as temperaturas só começaram a descer em maio.
James Gilmour, investigador do AIMS, considera que essa onda de calor foi de tal forma forte que afetou recifes de coral que, até então, tinham conseguido escapar aos impactos de eventos semelhantes no passado.
“Áreas que nos tinham dado esperança porque raramente ou nunca tinham sofrido branqueamento (…) foram fortemente atingidas desta vez”, afirma, em nota, o cientista. “Por fim, o aquecimento climático alcançou estes recifes.”
Apesar da catástrofe, os especialistas dizem que nem tudo está perdido, pelo menos para já, uma vez que, mesmo depois do branqueamento, alguns corais podem recuperar. Contudo, não há quaisquer certezas de que isso realmente venha a acontecer, pelo que é preciso continuar a monitorizá-los de perto.
Claire Spillman, da agência meteorológica australiana, considera que “2024 foi o ano mais quente de que há registo para os oceanos globais”, acrescentando que “para as águas australianas, as temperaturas marinhas à superfície durante o verão 2024-2025 foram as mais quentes desde que os registos oficiais começaram em 1900”.
Num planeta cada vez mais quente, tudo indica que eventos como este se tornem mais frequentes, intensos e devastadores.
“As alterações climáticas estão a provocar estes eventos, que se estão a tornar mais frequentes, mais intensos e mais amplos, dando aos nossos maravilhosos e valiosos recifes de coral pouco tempo para recuperarem”, avisa Gilmour, apontando que uma total recuperação pode demorar entre 10 e 15 anos.
“A chave para ajudar os recifes de coral a sobreviver num tempo de alterações climáticas é reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Uma boa gestão de problemas locais, como a qualidade da água e a sobrepesca, e intervenções desenvolvidas pela ciência marinha para ajudar os recifes também contribuirão para isso”, destaca.