Corrupção está a intensificar consequências das alterações do clima
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A organização Transparência Internacional avisou hoje que a corrupção está a intensificar consequências cada vez mais devastadoras das alterações climáticas que são enfrentadas por milhões de pessoas em todo o mundo.
Num relatório sobre a “Perceção da Corrupção em 2024”, a organização – que visa combater a corrupção e as atividades criminosas ligadas a atos corruptos -, alerta que dois dos maiores desafios que a humanidade enfrenta estão fortemente interligados: a corrupção e a crise climática.
A corrupção, explica a organização, “enfraquece as estruturas de governação e enfraquece a execução das leis”, além de desviar financiamento crítico para o clima crítico, como o destinado à redução das emissões e à criação de resiliência.
Nos países onde a corrupção é generalizada – como por exemplo, o Sudão do Sul, a Somália, a Venezuela, a Líbia ou o Iémen, de acordo com o Índice da Perceção da Corrupção divulgado pela Transparência Internacional -, a tomada de decisões ambientais “é frequentemente comprometida”, levando a “resultados injustos e à destruição de recursos naturais”.
Mesmo em países onde essa perceção é relativamente baixa, a influência de ‘lobbies’ constitui, muitas vezes, um desafio, refere a organização.
“Interesses corporativos poderosos moldam, muitas vezes, ou até bloqueiam as políticas climáticas para favorecer lucros de curto prazo em detrimento do ambiente”, refere a organização, adiantando que isso leva à existência de leis fracas, atrasos na transição para energias renováveis e medidas insuficientes para alcançar os compromissos internacionais em relação ao ambiente.
Por outro lado, sublinha a organização, a corrupção também aprofunda a marginalização das populações vulneráveis que sofrem desproporcionalmente os efeitos negativos das alterações climáticas.
Por isso, defende no relatório hoje apresentado, é imprescindível que o desenho e a adoção de políticas climáticas sejam baseados na participação pública.
“Sem uma política nacional anticorrupção robusta, a eficácia de acordos climáticos globais como o Acordo de Paris continua em risco”, avisa a Transparência Internacional.
Segundo recomenda, o combate eficaz da crise climática “tem de colocar a corrupção no centro das preocupações”.
Os governos, as organizações internacionais e as empresas, acrescenta, têm de dar prioridade à integração de medidas anticorrupção sólidas no financiamento climático, nas políticas e nos projetos.
“A transparência e a prestação de contas são essenciais para garantir que os recursos são protegidos, que as políticas cumprem os seus objetivos e que os projetos alcançam as comunidades que mais deles necessitam”, sublinha.
Um alerta que é reiterado pelo presidente da Transparência Internacional, François Valérian, segundo quem “a corrupção é uma ameaça global em evolução que faz muito mais do que prejudicar o desenvolvimento: é uma causa fundamental do declínio da democracia, da instabilidade e de violações dos direitos humanos”.
Por isso, afirma Valérian, citado no documento, “a comunidade internacional e todas as nações devem fazer do combate à corrupção uma prioridade máxima e a longo prazo”.
As “tendências perigosas” reveladas no Índice da Perceção da Corrupção deste ano mostram a necessidade de dar continuidade a ações concretas agora para enfrentar a corrupção global”, conclui.