Criada “comunidade energética” do Norte que utiliza resíduos como combustível

A Lipor e 27 entidades criaram “uma comunidade energética” do Norte que permitirá uma “utilização mais eficiente” da energia renovável produzida pela queima de resíduos, garantindo estabilidade tarifária, redução de custos e um “modelo sustentável de gestão de recursos”.
Em declarações à Lusa, o administrador delegado da Lipor, Fernando Leite, explicou que a Enno – Energias do Norte é uma Comunidade de Energia Renovável e que vai permitir, por exemplo às autarquias aderentes, “poupanças de 20 a 30%” na fatura de eletricidade.
“A ENNO vai permitir uma utilização mais eficiente da energia renovável produzida a partir da valorização energética de resíduos, o que vai garantir estabilidade tarifária, redução de custos energéticos e um modelo sustentável de gestão de recursos”, referiu o responsável.
Segundo explicou, as entidades associadas vão “ter acesso a energia a um preço reduzido e ainda com a vantagem de não estarem sujeitas, por exemplo, aos problemas associados ao gás que vem da Rússia ou ao facto de chover ou não para encher as barragens”.
“Não há esse tipo de constrangimentos, porque o nosso combustível é o resíduo e nós temos 500 mil toneladas de resíduos, há 20 anos que temos a mesma quantidade de resíduos e que temos que valorizar de alguma maneira e esta é a maneira eficaz de o fazer”, disse.
Outra vantagem da utilização da energia resultante da queima de resíduos “é que não está dependente do sol ou do vento, como a energia solar ou a eólica”.
“A única questão que se colocava para podermos ser uma unidade de produção para alto consumo de energia era a obrigação da nossa produção de eletricidade ter que ser mais ou menos igual àquela que ia ser consumida, isto para não desequilibrar o sistema elétrico nacional”, apontou.
E continuou: “Ou seja, a Lipor produzindo 170 gigawatts por hora de eletricidade, 170 milhões de quilowatts por ano, tinha que ter consumidores para esta eletricidade e, nesse contexto, juntámos várias entidades para dar face aqueles números”.
A ENNO conta com a participação de 28 entidades fundadoras, são elas sete dos oito municípios associados da LIPOR (Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde), as autarquias de Paredes, Santo Tirso e Trofa, as Empresas Municipais Ágora – Cultura e Desporto do Porto, Águas e Energia do Porto, Domus Social, Espaço Municipal, Maiambiente, Matosinhos Habit, Matosinhos Sport, Porto Ambiente, Porto Vivo SRU, STCP e Varzim Lazer, e ainda a APDL – Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, a Casa da Arquitetura, o Centro Hospitalar Universitário São João, o ISEP – Instituto Superior de Engenharia do Porto, a Ordem dos Arquitetos – Secção Regional Norte, a Santa Casa da Misericórdia do Porto e a própria LIPOR.
A Lipor é a entidade responsável pela gestão, valorização e tratamento de resíduos urbanos produzidos pelos municípios de Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde.
“Por exemplo, as autarquias podem conseguir reduzir a fatura de eletricidade em 20 ou 30%, usando esta eletricidade para a iluminação de ruas e edifícios públicos. Isto também acontece porque a Enno é uma entidade que não visa o lucro como uma empresa comercial e porque está isenta do pagamento de algumas taxas”, referiu.
Fernando Leite destacou ainda outra vantagem desta comunidade: “Sendo uma entidade que é formada por entidades públicas, ou maioritariamente de atores públicos, portanto, decidiram que uma parte da eletricidade que vai ser produzida vai ser destinada a um projeto de luta contra a pobreza energética, tentando batalhar contra esse flagelo”.
Questionado sobre se é possível mais entidades aderirem à Enno, o responsável afirmou que sim, salientando que há uma condição.
“Logo que a Lipor produza mais eletricidade, e isso está previsto acontecer futuramente, em função de uma terceira linha para a valorização energética dos resíduos aqui da região, obviamente que podemos estender o fornecimento a mais entidades”, disse.