Custos da produção sustentável devem ser suportados pela indústria e retalhistas

Os consumidores querem que as políticas agrícolas promovam a produção de alimentos a preços acessíveis, com menos pesticidas e antibióticos, elevados padrões de segurança ambiental e respeito pelo bem-estar animal.
As conclusões fazem parte de um inquérito europeu efetuado pela organização europeia de consumidores Euroconsumers, grupo do qual a DECO PROteste faz parte, em parceria com o Bureau Européen des Unions de Consommateurs (BEUC) e com o International Consumer Research & Testing (ICRT).
O inquérito, realizado no início de 2025, que contou com mais de 800 respostas válidas em Portugal, destaca que o preço da alimentação e a sua acessibilidade são uma preocupação central para os consumidores portugueses.
De facto, nove em cada dez inquiridos defendem que a produção alimentar deve assegurar o fornecimento de alimentos suficiente e estável a preços razoáveis no Velho Continente. Contudo, a realidade tem sido desafiante: quatro em cada dez inquiridos revelam ser difícil pagar as contas do supermercado e este mesmo número (40%) considera que a PAC não tem conseguido evitar os sucessivos aumentos no setor alimentar.
Recorde-se que, de acordo com os dados monitorizados pela DECO PROteste em Portugal, o cabaz de 63 alimentos essenciais aumentou mais de 25% em apenas três anos, passando de 188 euros no início de 2022 para cerca de 240 euros atualmente.
A sustentabilidade e a segurança alimentar emergem como exigências crescentes para os consumidores. Apesar de uma disposição para pagar mais por alimentos sustentáveis os consumidores estabelecem uma condição clara: 71% dos inquiridos concordam que os custos adicionais das produções sustentáveis devem ser suportados pela indústria alimentar e pelos retalhistas, sem que isso se traduza em aumento de preços para os consumidores.
Mais de metade (54%) defende que os subsídios europeus só deveriam apoiar produções de alimentos saudáveis e sustentáveis, e 50% acreditam que os agricultores europeus devem alterar as práticas de produção para combater as alterações climáticas, mesmo que isso os torne menos competitivos.
Por outro lado, a perceção de desequilíbrio na justiça da distribuição dos apoios da PAC é notória: apenas 13% dos inquiridos concordam que a atribuição dos apoios europeus entre as explorações agrícolas é justa em Portugal.
Em linha com as conclusões deste inquérito, a DECO PROteste, apela a que a revisão da PAC contemple as preocupações e expectativas dos consumidores: “É fundamental que os apoios privilegiem pequenos e médios produtores, jovens agricultores e explorações que enfrentam dificuldades económicas e localizadas em zonas rurais mais desfavorecidas ou assoladas por fenómenos extremos e alternados de inundações e seca, fruto das alterações climáticas. A transparência na origem dos alimentos e nas práticas agrícolas é crucial para permitir escolhas informadas”, considera Nuno Figueiredo, porta-voz da DECO PROteste.
Quanto às prioridades para os subsídios europeus, 66% dos inquiridos consideram importante apoiar agricultores que adotem práticas que protejam o ambiente e o bem-estar animal, e apoiar aqueles que enfrentam dificuldades económicas.
Os principais problemas identificados pelos portugueses no setor agrícola são a concorrência desleal de importações de países terceiros (apontada por 77%), os preços baixos pagos pelos produtos aos agricultores (60%) e as condições de trabalho difíceis nas explorações agrícolas (50%).