Declínio das tartarugas em Angola com pesca e pressão populacional entre as causas

As tartarugas marinhas em Angola estão em declínio acelerado, com a pesca e a pressão populacional entre as principais causas, alertou hoje o biólogo Michel Morais, coordenador do Projeto Kitabanga.
Segundo o investigador da Universidade Agostinho Neto, que falava à margem da conferência comemorativa dos 30 anos da Fundação Kissama, “a pressão antrópica”, sobretudo ligada à atividade pesqueira, tem sido determinante para a redução da população de tartarugas, que morrem em grande número durante a época de nidificação.
Até 2020, Angola era considerada um dos pontos mais importantes do Atlântico para a tartaruga-oliva, com cerca de 80 mil animais que nidificavam anualmente na costa. “Neste momento estamos em cerca de 30 mil”, disse Michel Morais, acrescentando que, no caso da tartaruga-de-couro, não houve mais do que 66 animais a nidificar ao longo da costa angolana na última temporada.
O coordenador do Projeto Kitabanga (programa de conservação de tartarugas marinhas) afirmou que os esforços de conservação e educação ambiental têm ajudado a proteger ninhos e a encaminhar milhões de pequenas tartarugas para o mar, mas advertiu que “há uma componente de fiscalização que cabe às autoridades” e que só poderá ser eficaz se for definido um plano nacional de gestão.
“O que acontece é que as autoridades ficam sempre à mercê daquilo que são os resultados por nós apontados”, disse, defendendo o envolvimento de todos os atores da conservação.
Nos últimos cinco anos, a situação agravou-se devido ao aumento da atividade costeira e ao uso de práticas de pesca mais lesivas para o ambiente.
“Podemos considerar as duas coisas: um aumento significativo da pressão sobre o ecossistema costeiro e ao mesmo tempo a falta de fiscalização”, explicou o biólogo.
Apesar das dificuldades, Michel Morais destacou o exemplo do Longa, onde a restrição da atividade pesqueira durante a época de desova resultou no aumento do número de tartarugas no período de nidificação, defendendo medidas semelhantes noutras áreas críticas.
Criado há mais de 20 anos, o Projeto Kitabanga cobre atualmente todo o litoral angolano e, em duas décadas, já protegeu mais de 5 mil ninhos e encaminhou cerca de 5 milhões de tartaruguinhas para o mar, contando com a participação de 80 tartarugueiros das comunidades locais, estudantes universitários e voluntários.
Recentemente entregaram ao Governo angolano uma proposta de plano de gestão com 13 recomendações, incluindo a criação de áreas de conservação marinha e medidas multissetoriais para travar o declínio das tartarugas em Angola.
A conferência, que decorre hoje e sexta-feira em Luanda, reúne especialistas nacionais e internacionais, académicos, organizações da sociedade civil e representantes de instituições públicas ligadas à gestão ambiental, para debater os desafios e as soluções para a conservação da biodiversidade em Angola.