Descoberto fóssil de peixe australiano com 15 milhões de anos

Uma nova espécie de peixe que viveu em lagos e rios de água doce australianos há cerca de 15 milhões de anos foi batizada com o nome do investigador da Universidade Nacional Australiana (ANU) que desempenhou um papel fundamental na sua descoberta.
O Professor Jochen Brocks descobriu vários fósseis do peixe antigo, denominado Ferruaspis brocksi, no no local de fósseis McGraths Flat, perto de Gulgong, em Nova Gales do Sul (NSW).
“Estou muito orgulhoso por esta descoberta inédita no mundo ter o meu nome e agradeço aos meus colegas do Museu Australiano e da Universidade de Camberra por me terem dado este nome. Esta descoberta abre novos caminhos para a compreensão da história evolutiva das espécies de peixes de água doce da Austrália e dos ecossistemas antigos”, afirma o Professor Brocks.
O autor principal do estudo, Matthew McCurry, do Museu Australiano e da UNSW Sydney, sublinha que, antes desta descoberta fóssil, os cientistas não dispunham de provas concretas que permitissem determinar quando é que este grupo de peixes chegou à Austrália e como evoluiu ao longo do tempo.
“O Ferruaspis brocksi é o primeiro fóssil de um peixe australiano de água doce a ser encontrado na Austrália”, afirma McCurry.
“A descoberta do fóssil de peixe de água doce com 15 milhões de anos oferece-nos uma oportunidade sem precedentes para compreender os antigos ecossistemas da Austrália e a evolução das suas espécies de peixes”, acrescenta,
“Este fóssil faz parte da família de peixes Osmeriformes – um grupo diversificado de espécies de peixes na Austrália que inclui espécies como o Australian Grayling e o Australian Smelt. Mas, sem fósseis, tem sido difícil para nós dizer exatamente quando o grupo chegou à Austrália e se mudou ao longo do tempo”, diz ainda.
Os investigadores afirmam que o conteúdo estomacal dos peixes fossilizados está “tão bem preservado” que permite aos cientistas vislumbrar o comportamento destas espécies antigas.
“Sabemos agora que o Ferruaspis brocksi se alimentava de uma série de invertebrados, mas a presa mais comum era uma pequena larva de mosquito fantasma. Um dos fósseis mostra mesmo um parasita preso à cauda do peixe. Trata-se de um mexilhão juvenil de água doce, chamado glochidium. Estes mexilhões juvenis fixam-se nas guelras ou nas caudas dos peixes para apanhar boleia nos cursos de água”, afirma McCurry.
O Professor Brocks acrescenta que “este pequeno peixe é um dos mais belos fósseis que encontrei em McGrath Flat, e encontrar o primeiro vertebrado entre os abundantes fósseis de plantas e insetos foi uma verdadeira surpresa.”
A espécie foi batizada Ferruaspis brocksi por ter sido encontrada envolta em rocha rica em ferro. “Ferru”, de ferrum (latim), que significa ferro, e ‘brocksi’, em homenagem ao Professor Brocks.
Michael Frese, da Universidade de Camberra e da CSIRO, a agência nacional de ciência da Austrália, diz que um dos aspetos mais interessantes do trabalho foi o facto de conseguirem distinguir a cor do peixe.
“O peixe era mais escuro na superfície dorsal, mais claro no ventre e tinha duas riscas laterais ao longo do lado”, revela Frese.
“Utilizando um microscópio potente, conseguimos ver pequenas estruturas produtoras de cor conhecidas como melanossomas. Os melanossomas fossilizados já tinham permitido aos paleontólogos reconstruir a cor das penas, mas os melanossomas nunca tinham sido utilizados para reconstruir o padrão de cor de uma espécie de peixe há muito extinta”, explica.
O novo sítio fóssil, denominado McGraths Flat, representa um dos poucos locais fósseis na Austrália que pode ser classificado como “Lagerstätte” – um sítio que contém fósseis de qualidade excecional com pormenores notáveis.
“Os fósseis encontrados neste sítio formaram-se entre 11 e 16 milhões de anos atrás e fornecem uma janela para o passado. Provam que a área foi outrora uma floresta tropical temperada e húmida e que a vida era rica e abundante nas Central Tablelands”, afirmou McCurry.
A investigação foi publicada no The Journal of Vertebrate Palaeontology.