Desperdício alimentar continua a crescer e já não é exclusivo dos países ricos



O desperdício alimentar está a aumentar em todo o mundo e já não é um problema exclusivo dos países desenvolvidos. Apesar de os países mais ricos continuarem a desperdiçar mais comida por pessoa, as diferenças estão a esbater-se. A urbanização e o crescimento económico nos países de rendimento médio e baixo estão a aproximar os níveis de desperdício alimentar à média global, segundo um artigo de opinião publicado esta semana na revista Cell Reports Sustainability.

De acordo com os autores, os economistas agrícolas Emiliano Lopez Barrera e Dominic Vieira, da Universidade Texas A&M, o cidadão comum desperdiça, em média, 132 quilos de comida por ano, e este número está a aumentar.

A tendência é particularmente visível em países como a China, Índia e Brasil, onde o rápido processo de urbanização está a alterar os hábitos de consumo. A maior proximidade a supermercados e o maior acesso à refrigeração estão a levar as famílias a comprar mais alimentos perecíveis do que os que conseguem consumir.

“Os agregados urbanos tendem a gerar mais desperdício alimentar do que os rurais, onde os alimentos são mais frequentemente reaproveitados”, escrevem os autores.

Entre 2004 e 2014, o desperdício alimentar global aumentou cerca de 24%, sobretudo nas zonas urbanas dos países em desenvolvimento. O que antes era uma realidade predominantemente dos países desenvolvidos passou a ser uma preocupação transversal. Segundo um relatório de 2024, a diferença no desperdício alimentar entre países ricos, de rendimento médio-alto e médio-baixo é agora de apenas 7 quilos por pessoa por ano.

Os supermercados também têm um papel relevante neste fenómeno. No Brasil, por exemplo, as grandes cadeias reportaram perdas de 6,7 mil milhões de reais (aproximadamente 1,2 mil milhões de dólares) em 2018, resultantes apenas do desperdício de alimentos. E se a melhoria das cadeias de frio ajudou a preservar os alimentos durante o transporte, também transferiu parte do problema para as casas dos consumidores, onde grande parte dos produtos acaba por ser deitada fora.

Para os investigadores, este é o momento certo para agir. Defendem que medidas políticas e estruturais são essenciais para inverter a tendência. Entre as propostas estão incentivos à doação de alimentos por parte de supermercados e restaurantes, campanhas de sensibilização sobre conservação e planeamento alimentar, e investimentos em infraestruturas de refrigeração, sobretudo nos países em desenvolvimento.

“Se não forem tomadas medidas, o aumento do desperdício nos países de rendimento médio e baixo poderá enraizar padrões de consumo insustentáveis, com graves consequências para a segurança alimentar, a saúde pública e o ambiente”, alertam.

Para evitar que esses comportamentos se consolidem, os autores sugerem a implementação de leis que facilitem a doação de alimentos, a promoção da compostagem e o estímulo à partilha e reutilização de excedentes alimentares a nível comunitário.

Na sua análise, Lopez Barrera e Vieira sublinham ainda a necessidade de uma estratégia global coordenada, adaptada às realidades de cada país e região, que integre o combate ao desperdício alimentar nos esforços mais amplos de sustentabilidade e justiça social.






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