Diferentes espécies de aves “falam” umas com as outras para escolherem rotas de migração e locais de paragem



As migrações das aves seguem rotas que se consideram estar-lhes “no sangue”, ou seja, que nascem com elas, embutidas nos seus genes ao longo da sua história evolutiva. E embora tal possa ser verdade, a aprendizagem social desempenha também um papel importante na escolha dos caminhos a seguir.

É isso que defende uma equipa de cientistas dos Estados Unidos da América e do Reino Unido num artigo divulgado esta semana na ‘Current Biology’.

Através da análise de mais de 18.300 horas de gravações de vocalizações de aves canoras em voos migratórios noturnos, os investigadores sugerem que esses animais parecem “falar” uns com os outros e mesmo com outras espécies de aves quando se deslocam de um local para outro.

Estudos anteriores tinham já apontado para a formação de aglomerados de várias espécies de aves em locais de paragem no decurso de migrações, mas esta investigação aponta que diferentes espécies de aves canoras formam grupos únicos durante os voos migratórios e comunicam vocalmente umas com as outras.

Embora não seja possível saber ao certo o que estes animais dizem uns aos outros, os investigadores acreditam que podem transmitir informações sobre a sua espécie, sexo e idade, e não afastam a possibilidade de poderem comunicar sobre as rotas de voo e a localização de áreas onde se possam reabastecer.

“Nos últimos anos, tem havido um reconhecimento crescente da importância da informação social na migração das aves, mas os cientistas têm sobretudo documentado isso em espécies que viajam durante o dia ou em grupos familiares”, diz Benjamin van Doren, da Universidade do Illinois e primeiro autor do artigo.

Recorrendo a ferramentas de Inteligência Artificial para identificar as espécies emissoras dos sons gravados, os investigadores perceberam que, quando em voo, espécies com envergaduras de asa e vocalizações semelhantes têm maior tendência para formar grupos de voo.

Em comunicado, van Doren sugere que espécies com tamanhos de asa semelhantes podem voar praticamente à mesma velocidade, o que permite a criação de grupos multiespécie. Além disso, as que têm vocalizações parecidas podem também comunicar mais facilmente umas com as outras, promovendo uma maior coesão social entre espécies diferentes.

Embora ainda no campo da especulação, os investigadores apontam que é possível que espécies de aves canoras que não vivem durante muito tempo, e por isso podem não aprender com os progenitores todas as rotas de migração e os melhores locais de alimentação, podem recorrer a laços social com outras espécies para chegarem onde precisam de ir.

“Este estudo desafia realmente a ideia, há muito defendida, de que as aves canoras migram sozinhas, seguindo unicamente os seus próprios instintos”, salienta van Doren. Uma vez que os efeitos das alterações climáticas estão a causar grandes perdas no mundo das aves, os investigadores temem que estas parcerias entre espécies, que podem ser fundamentais para a sobrevivência de algumas delas, podem estar em risco, com consequências desastrosas para a diversidade da avifauna.

“Aprender mais sobre as consequências destas ligações sociais – não apenas para a migração, mas também para outros aspetos da sua biologia – será importante para informar e gerir os riscos que elas enfrentam num mundo em mudança”, sublinha.





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